Uma das coisas que eu mais amo no Substack é poder trocar ideia com quem eu admiro assim, de igual para igual. Estou ciente de que cada uma que escreve aqui está em estágios diferentes na escrita, tem seus próprios números, suas metas e suas realidades, mas gosto de pensar que nos igualamos no amor pela conexão que surge através do texto. A ideia de comunidade - que se perdeu na internet faz tempo - ainda pode ser vista aqui, na sua melhor forma.
É por isso que faço tanta questão de apoiar financeiramente as mulheres cujo conteúdo eu adoro, comentar nas suas publicações, recomendar seus escritos e elogiar, com toda a honestidade do mundo. Encontrar um espaço como esse aqui me salvou de diversas formas e acompanhar o trabalho de tantas escritoras é algo que me inspira diariamente. Elas (vocês) me mostraram um mundo possível e me ajudaram a dar um novo rumo para a minha criatividade, que andava perdida na terra dos boletos e dos algoritmos.
Mas esse texto, pasmem, não é uma ode ao Substack. Se no online eu estou encantada de ver tanta gente escrevendo e se expondo (mesmo com medo), no offline eu estou chocada em Cristo com a quantidade de mulheres FODAS se achando meio água de salsicha, meio picolé de chuchu.
A bem da verdade, nós mulheres, nunca tivemos a autoestima em dia. As nascidas na década de 80, 90, devem se lembrar que havia todo um mercado editorial baseado na ideia de que nós precisávamos de constantes melhorias: da curva dos cílios até o que fazíamos com os nossos namorados na privacidade do quarto. O sarrafo era alto, inalcançável, mas a gente se enganava dizendo que só precisávamos perder mais três quilinhos, trocar a marca do shampoo, e pronto. Mais um tratamento estético (dolorido, claro. no pain, no gain) e estaríamos perfeitas.
Essa ideia gruda na gente, sabe? Hoje não temos mais Capricho e nem a Nova nas bancas, não tem ninguém dizendo que podemos “enlouquecer um homem na cama”, se fizermos um pouco mais de esforço. Não temos mais a rivalidade feminina - aliás, temos, mas hoje é mais cafona que alça de sutiã de silicone -, mas seguimos apegadas à eterna comparação. (Mark Zuckerberg, isso está na sua conta, tá?)
Sentir inveja é feio, então não sentimos. Pegamos aquela angústia que aparece quando vemos alguém conquistando algo que desejamos para nós e internalizamos: “eu preciso fazer mais, me esforçar mais, mais um curso, mais um livro, mais um diploma”. Ou pior: “não é pra mim, eu não sou boa o suficiente, tenho medo de tentar”.
Estou falando das minhas amigas sim, mas não só. São clientes, conhecidas, amigas de amigas, gente que ouço na fila do mercado, na academia, na farmácia e, principalmente, no espelho. A falta de autoconfiança é crônica e assustadoramente real.
Os homens, claro, não sabem o que é isso. Na onipresente lista dos 100 melhores livros do século, me chamou a atenção a escolha do Stephen King. Entre seus 10 preferidos estava “Sob a redoma”, escrito por… ele mesmo! Não analisei as escolhas de todas as autoras mulheres, mas me arrisco a dizer que só um homem se “auto colocaria” na lista de favoritos. As mulheres estão preocupadas demais em melhorar o seu próprio trabalho ou até falar das amigas escritoras, de modo que nenhuma fique chateada de estar de fora. E veja bem, não acho que ele esteja errado (eu, particularmente, colocaria Novembro de 63, mas aí vai de cada um). Só acho curioso como nós não conseguimos nos vangloriar assim. Uma pena.
Queria emprestar meus olhos para as minhas amigas, para que elas se vissem como eu as vejo: inteligentes, criativas, responsáveis, sensatas ou deliciosamente confusas. Lindas, por dentro e por fora. Queria me ver um dia como elas me veem. Eu me inspiro diariamente nelas e sei que elas em mim. Mas por qual motivo? O que eu estou deixando de ver em mim mesma que para elas é tão óbvio? Que características me libertariam dessa busca incessante por uma versão melhor?
Não sei. Digo apenas que eu vejo vocês. E estou começando a me ver também.
Curtinhas!
O hype com a lista de 100 melhores leituras do século XXI ainda não acabou. Aqui você vê os votos das celebridades que participaram das escolhas.
E aqui, eles te ajudam a encontrar um livro da lista de acordo com as suas preferências.
Uma série para descobrir as bibliotecas alheias.
Amizades literárias.
Livros curtos para ler em um dia.
Autores de contos que você precisa conhecer (e eu também, já que só li Edgar Allan Poe).
Já viram os indicados ao Emmy?
E esse ensaio da
sobre relações parassociais?
O que eu estou lendo?
O piriguetismo literário voltou a atacar. Por aqui, estou mergulhada na leitura de “Falso Espelho”, coletânea de ensaios da Jia Tolentino; “Melhor não contar”, da Tatiana Salem Levy, e “O Rouxinol”, da Kristin Hannah. Comentei com uma amiga que eu estava lendo o último para desopilar e ela me chamou a atenção para o fato de que minha leitura para “relaxar” era sobre o nazismo. Eu acho que eu não sei mais brincar de ler coisa leve, sabe? Mas claro, aceito sugestões. O que vocês leem quando não querem pensar em nada?
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)
Oi, Tati! Obrigada pela edição! Obrigada por escrever.
Vim deixar um link:
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/obrigacao-de-ser-genial/
ahhhh que orgulho <3
e esse livro da jia é formador!!