Quantos anos você tem? Perguntinha ingrata. Eu sempre achei que evitavam fazer essa pergunta para que as mulheres pudessem mentir a idade. Nada! No meu caso é porque eu não sei o que responder mesmo.
Veja bem, depende. Na sexta à noite, eu tenho 92. Às 6h da manhã, tenho 12 e acordo com uma energia de adolescente. No sítio da família, com meus primos, não passo de 13. Com meu marido varia. Às vezes tenho 50, às vezes 25. Para a minha mãe, 8, no máximo. É difícil eu ter 37, a idade que a carteira de identidade indica.
Aliás, 37 é uma idade bem esquisitinha. Trinta e sete. Trin-ta e se-te. Os 40 ainda estão um pouco (bem pouco) distantes, mas você está ainda mais longe dos 30. Com 37, a gente ainda é jovem? Quando é que se vira adulto de verdade? E o que é ser adulto de verdade?
Na minha infância, adulto era quem tinha todas as respostas e sabia lidar com coisas complicadas. Banco, aluguel, contratos, problemas com carro, impostos. Pela minha lógica de criança, bancários, advogados, mecânicos e contadores seriam os mais adultos de todos. Aí a gente cresce e percebe que ninguém sabe p*rra nenhuma e está todo mundo tentando sobreviver e não perder o réu primário.
Andei refletindo muito sobre isso depois de ter ouvido da minha terapeuta: “é que você ainda é uma criança”. Pah! Na minha cara. E eu pago a ela pra me dizer isso, vejam só. Terapia é uma coisa louca. Tudo bem, ela estava falando de uma situação específica, dentro de um contexto específico. Paradoxalmente, eu agi como adulta. Ouvi, absorvi, analisei… e tive que concordar. Às vezes eu deixo a minha criança interior tomar as rédeas mesmo.
Faço isso na hora de escolher minhas refeições (superei o danoninho e a geleia de mocotó, mas o brigadeiro segue comigo), quando preciso dar conta de coisas chatas (quem aí acha que a gente casa pra delegar tarefas ingratas?), quando não passo na prova do Detran (quem quer dirigir a própria vida, meu Deus?), quando preciso de validação externa para desejos muito pessoais. Sigo firme nas minhas responsabilidades profissionais e financeiras, no cuidado com a minha casa e a minha família. Nesses casos, sou adulta convicta. Mas em outros, ah, às vezes eu deixo a Tati de 10 anos assumir o comando.
Talvez por isso eu não sinta muito a idade que eu tenho. Acho que nossa geração também perdeu um pouco o parâmetro: como deveria ser uma mulher de 37 anos? Filho é obrigatório? Não mais, mas ainda um pouco. Vida financeira estabilizada? Quem tem isso hoje em dia? Casa própria? Não na minha bolha. Marido? Sim, não? O que faz a gente ter a idade da gente?
Outro dia, conversando com meus sogros na hora do lanche, alguém perguntou quem era Caio Ribeiro. Meu cunhado, 10 anos mais novo, respondeu de bate-pronto: “um comentarista esportivo”. “Quê? Não, jogador de futebol, jogava no São Paulo!” Pronto, denunciada a idade.
Outra situação: meu primo de 8 anos é apaixonado por funk. No meu casamento, sempre que passava por mim ele perguntava “já tá na hora, já tá na hora?”. Quando o DJ começou a tocar “Glamurosa” eu corri feliz até ele: “Bê, vamos dançar!”. Meu mundo caiu tal qual o da Maysa quando ele respondeu: “isso não é funk”. Funk pra ele é o que toca no TikTok (e o que eu, aliás, nem reconheço como música). Tadinho, nunca vai apreciar Bonde do Tigrão como a gente apreciava em 2001.
Nós procuramos em Platão, Kant e Santo Agostinho as respostas sobre o tempo, mas no final, quem definiu melhor foi a Sandy:
“Tenho sonhos adolescentes
Mas as costas doem
Sou jovem pra ser velha
E velha pra ser jovem”.
É isso. Ser adulto é conciliar festas com sessões de RPG.
Da semana
Quem me acompanha no Instagram já deve ter visto o estado de Engenheiro Paulo de Frontin, uma cidadezinha a 70km do Rio que é parte indissociável de mim mesma. Meu pai morou lá, minha família ainda mora lá, eu e Gui temos casa lá, e muitos, muitos amigos. É de lá, inclusive, a foto que ilustra esse texto. Na quarta passada (dia 21/02), a região foi atingida por chuvas fortes, que causaram mais de 85 deslizamentos e 80 famílias desabrigadas. Hoje, a principal via de acesso à cidade, a Serra de Paracambi, está completamente obstruída, sem previsão de liberação. Com isso, nossa única maneira de ajudar é através de Pix. Os voluntários do SOS Frontin estão fazendo a ajuda chegar a quem precisa.
Quem puder contribuir, qualquer valor importa! Eu vou postando nos stories a prestação de contas assim que ela estiver disponível!
Curtinhas!
Descobri com atraso a newsletter Andanças, mas deixo aqui a dica para quem gosta de cinema e boa escrita.
Bárbara Brito é pura inspiração.
E já que o assunto é idade… quem lembra?
As violências de gênero se renovam…
Um vídeo lindo para ser feliz hoje.
O que eu estou lendo?
Não tinha ouvido falar de Denny Bryce até me cair nas mãos “A Outra Princesa”, romance baseado na vida de Sarah Forbes Bonetta, princesa iorubá que foi sequestrada, escravizada e dada “de presente” à Rainha Vitória. A soberana passa a tratar a menina como um souvenir exótico e a exibi-la na corte, mas Sarah é inteligente o suficiente para sobreviver nesse ambiente, totalmente diferente das suas origens. Estou bem no início, mas gostando bastante e já quero ler outras coisas da autora!
Recebi pela TAG, mas já está em pré-venda e você pode reservar o seu aqui.
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aiii me vi demais nesse texto <3
Sábia Sandy!
Essa frase define como me sinto também 🙃