Outro dia, viajando com meu marido, ouvi a seguinte pergunta: “você não tem vontade de fazer coisas, tipo pilotar um avião?”. Na hora levei o questionamento ao pé da letra. Não, nunca pensei em pilotar um avião. Mas depois entendi o que ele, no fundo, ele estava perguntando: “você não tem vontade de fazer coisas ‘loucas’ que fujam completamente do caminho que você desenhou (ou desenharam) para você?” E nesse caso, SIM. Tenho muitas vontades do tipo.
A maioria delas é bem banal. Tenho vontade de fazer aulas de canto escondido e, de repente, soltar a voz para um grupo de amigos assim, despretensiosamente, tipo a Adele ou Celine Dion. Tenho vontade de patinar no gelo, mas não como a gente fazia ali na pista do shopping. Queria patinar assim, ó:
Coisa pouca, coisa básica. Também queria escrever um livro, dar aula de escrita e literatura, apresentar um TED Talk, criar um projeto de incentivo à leitura. Escrever um livro, estudar roteiro, criar um podcast. Adotar um filho, saber cozinhar (e ter paciência para), tirar a carteira de motorista, correr uma meia maratona. É possível? É. Mas quem olha essa lista extensa provavelmente há de pensar: não é possível, você vai ter que escolher.
Será que vou? Bom, obviamente, minha chance de ser a Adele ou a Kioko Ina já passou. Por mais que eu me esforce nas aulas de canto e supere o medo de quebrar o pescoço patinando no gelo, aos 38, o máximo que eu posso conseguir é fazer um falsete da Melody ou arrumar uma lesão na lombar. Mas por que não um mestrado? O que me impede de começar um projeto? E cozinhar? (Meu marido com certeza ficaria muito feliz com essa parte).
Há alguns anos, eu seguia uma influenciadora que constantemente recebia perguntas do tipo: “tenho 45 anos e quero ser médica. é muito tarde?”. A resposta geralmente era: “se você pensa em morrer aos 46, sim”. Bom, como eu não pretendo morrer antes dos 100, dá tranquilo para distribuir essa lista de desejos em 62 anos, né?
Toni Morrison, por exemplo, escreveu O olho mais azul aos 39 anos. Mas foi só aos 56, quando lançou Amada, que ela passou a ser realmente reconhecida. Já Drauzio Varela tinha 50 anos quando correu a sua primeira maratona. E foi só aos 79 que ele recebeu a Six Star Medal, concedida para aqueles que completam as seis maratonas mais importantes do mundo. Vera Wang foi patinadora artística e editora de moda antes de se tornar estilista de noivas.
Esses exemplos são ótimos se estivermos falando de resultados e performances. Mas, se você não estiver pensando em nada disso, melhor ainda. Abra espaço na sua rotina para testar seus desejos pela simples vontade de fazer algo novo, sem necessidade de ser boa ou provar algo a alguém. Aí nem mesmo o céu é o limite.
Me recuso terminantemente a escolher. A partir de hoje, vou tratar a minha vida como uma grande sorveteria. Um pouquinho de chocolate, uma pitadinha de pistache e, por que não, aquele ali de flocos? O que me impede? Nada. Nadinha.
Curtinhas!
Sempre o mestre.
Cérebro de pipoca, você tem?
A casa da Mariana Salomão Carrara é tão incrível quanto seus livros.
Um mash-up das antigas, para quem é nostálgico. .
Utilidade pública para as mulheres que vão ao Rock in Rio.
O que eu estou lendo?
Tenho um fraco por livros com personagens chatos. Nessa lista, incluo O Morro dos Ventos Uivantes, Desonra, Carrie Soto está de volta, O Apanhador no Campo de Centeio e agora Impostora. O livro fala sobre apropriação cultural, racismo, plágio e diversos assuntos que valem a reflexão. O problema é que a protagonista e narradora é in-su–por-tá-vel. Juniper Hayward é uma escritora que ainda não conseguiu fazer sucesso no mundo literário. Mas agora, com a morte de uma amiga super talentosa, ela tem uma história que tem tudo para ser um best-seller. O problema é que não foi ela quem escreveu. Para ser honesta, há que ser paciência com Juniper e seu ritmo lentíssimo, mas vale demais a leitura!
E não custa lembrar: os livros que eu cito aqui nessa newsletter sempre vêm acompanhados de um link de afiliado da Amazon. Ao comprar qualquer item através desses links, eu ganho uma pequena porcentagem e você não paga nada mais por isso. Vamos ajudar essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet? :)
penso que é menos sobre "ter que escolher" e mais sobre como a vida é um compilado de decisões que passam por escolhas - algumas fáceis, outras difíceis, mas todas com consequências que afetam nosso desejo. faz sentido?
(e sim, comecei a estudar psicanálise hahahaha)