Até quando a gente pode ser rebelde sem cair no ridículo?
#16 Zero Pretensões e Sentimentos Aleatórios
Eu nunca tive problemas com figuras de autoridade. Pelo contrário. Fui aquela menina querida pelos professores, que não mentia para os pais, não matava aula, não fumava no banheiro da escola, não pintava o cabelo de cores pouco ortodoxas e nunca fazia nada para chocar ninguém. Meu maior ato de rebeldia foi experimentar maconha. Aos 30 anos. Em resumo: uma chata.
Mas óbvio que tanta pseudo-perfeição hora uma se transformaria em uma panela de pressão e acabaria saindo pelos poros. E o momento não poderia ser menos oportuno: o casamento. Em minha defesa, preciso dizer que esse sonho de princesa nunca foi meu. Minha mãe se casou aos 18 anos, com um vestido demasiadamente curto para a época (desenhado pelo Dener, meu bem!), e por pouquíssimo, meu pai não chega de carroça. Foi impedido no último momento pelo meu avô, preocupado em salvar a própria reputação. De modo que o total desprezo pelas tradições faz parte do meu DNA.
Não sei bem explicar porque, mas esse é um universo paralelo onde, aparentemente, todas as noivas seguem um manual escrito pela rainha Vitória, lá em 1840. Além disso, a palavra “casamento” tem o poder de aumentar qualquer cifra. Um bolo de aniversário custa R$ 200. O mesmo bolo pode custar R$ 1200 se você usar a palavra-chave. Maquiagem? R$ 400. Maquiagem de noiva? R$ 1.500. Assim seguimos. E se você não estiver muito, muito, muitíssimo atenta, é capaz de pagar R$ 15 mil para alguém mandar no seu casamento e ainda ficar satisfeita com isso.
Nesse metaverso, anéis de guardanapo ganham uma importância descomunal e, aparentemente, usar tênis é crime previsto em lei, com consequências gravíssimas. Não sei quais são, mas ando fortemente tentada a descobrir. A cada vez que alguém torce o nariz pra essa ideia, a Converse vende um par de All Star e o próximo vai ser pra mim.
Porque no final, não se trata da rebeldia pela rebeldia e nem do casamento em si. É sobre defender seu próprio território da colonização alheia, que pode vir em forma de conselhos cheios de amor, mas ainda assim, é uma invasão.
Da Semana
Mergulhada em trabalho, quase não tenho tido tempo/energia de produzir conteúdo para o Instagram, mas confesso que ando sentindo saudade. Como anda a relação de vocês com essa rede? Já aderiram ao Tik Tok? Estão curtindo consumir o que? Ainda vale a pena fazer posts sobre livro nessa internet de meu Deus?
Curtinhas!
O episódio do Cozinha Prática sobre a Nellie Bly foi sensacional! Vale muito a pena assistir na íntegra! Disponível no Now.
E você? Já tomou seu drinkzinho hoje?
Qual é o surto coletivo com essa música?
Vontade de tatuar esse post na testa.
O que eu estou lendo?
A obsessão com a trilogia “O Século” persiste e agora eu já cheguei à metade do “Inverno do Mundo”, segundo volume, que narra os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Confesso que ler sobre a ascensão do fascismo no Brasil de Bolsonaro está sendo particularmente difícil, mas esse livro deveria ser lido nas escolas, juro. Não se assuste com o tamanho, só leia.