Do lugar de onde eu venho, a culpa sempre foi uma moeda de troca. Fazer com que o outro se sentisse culpado parecia ser o caminho para conquistar certas regalias no relacionamento, fosse entre homem e mulher, mãe e filhos ou amigos. Durante anos (muitos), era assim que eu via as relações se desenrolando na minha frente. E claro, foi assim que eu aprendi a conviver.
Eis que chegamos em 2022 e parece impossível entrar no instagram sem dar de cara com algum post sobre relacionamento abusivo. A maioria deles fala sobre identificar no parceiro comportamento pouco saudáveis. É útil? Muito. Faz com que a gente treine o olhar para algumas furadas? Com certeza. Mas também passa a falsa impressão de que abusivo é sempre o outro. Ou seja, o dedinho está lá apontado, mas o reflexo no espelho ninguém quer ver, né? Nesse contexto, deslizes viram imensas faltas de caráter. Alguns são, de fato. Outros não. A vida adulta tem cinquenta tons de cinza e não é bem isso que você está pensando.
Anos de terapia e alguns namoros frustrados depois, eu consegui perceber que, em alguns casos, a abusiva da relação era eu. Logo eu, que me encaixava tão bem no papel de mocinha de comédia romântica, que me dedicava, que era carinhosa... que era ciumenta, insegura, e às vezes um tiquinho manipuladora. Confesso isso aqui sem orgulho nenhum, mas acho importante que nessa de reconhecer relacionamentos abusivos, a gente olhe também para o próprio umbigo e identifique as nossas falhas.
Quando percebi, saí ligando para os fulanos e dizendo: “ô, cê me desculpe por aquela vez que...”. Alguns nem lembravam, outros colocaram a mãozinha na consciência também. O processo não foi importante pelas desculpas em si, mas pelo exercício de se reconhecer falho também. Pra proteger nosso ego e nossa autoestima volta e meia a gente sobe num pedestal que nem existe. Descer pode ser muito confortável. Lá de cima vista é boa, mas faz frio.
Da semana
Por falar em pedestal e delírios de vaidade, meu ascendente em Leão manda avisar que o acontecimento da semana foi meu aniversário. Ah, o ego! Eu tendo a ficar introspectiva nessa época e, em meio ao um zilhão de mudanças, volta e meia eu fico me perguntando se to no caminho certo. Com a quantidade de carinho que eu recebi no dia 14 já posso dizer, sem medo de errar, que to sim. Ser amiga de vocês é algo “muito excelente” como a gente costuma dizer aqui em casa. <3
Curtinhas!
Homens apontam quais livros escritos por mulheres todos deveriam ler. Tenho sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo em que eu entendo que ainda é raro homens lerem mulheres, eu me pego pensando: “po, ainda precisamos de listas assim?”. Precisamos.
A medicina não foi feita para o corpo feminino e eu to indignada.
Você já parou para pensar porque nas propagandas os relógios sempre marcam 10h10? A explicação tá aqui.
O que eu to lendo no momento
Há anos eu ouço que “A Redoma de Vidro” é um livro muito denso e pesado por contar a história de uma jovem entrando em depressão. Ele me olha da estante há séculos e esse mês, graças ao @lendomulheresclassicas, finalmente tirei o pó de Sylvia Plath. Olha, ainda estou aguardando o caldo engrossar, mas já adianto que to amando. A leitura é fluida, gostosa de ler e pra mim Esther é um Holden Caufield versão “1000x vezes melhor”. Vale muito a experiência! Ah, e comprando o seu por esse link aqui você ajuda essa produtora de conteúdo e não gasta nenhum centavo a mais por isso. <3