Eu gosto de fazer parte. Gosto de estar no meio de uma multidão vibrando na mesma energia, cantando a mesma música, torcendo pelo mesmo time. Mas odeio, absolutamente ODEIO, chorar em público. Esses dois sentimentos entraram em rota de colisão no final de semana, quando me sentei com meu marido à tarde para assistir “Ainda estou aqui” em uma sala lotada. Eram 15h de um sábado chuvoso e naquele cinema de rua tinha de tudo: adolescentes com os pais, representantes da juventude hipster de Botafogo com suas ecobags e camisas de botão, velhas senhoras em cadeiras de roda. No meio de tudo isso, eu e meu marido, curiosos para ver Fernanda Torres, Selton Mello e esse filme tão mega-blaster comentado.
A história eu já conhecia. Super fã de Marcelo Rubens Paiva, eu li o livro que inspirou o filme logo na época do lançamento. Já conhecia dona Eunice, já sabia quem era o ex-deputado Rubens Paiva, já tinha ouvido falar daquela rotina tão familiar de Ipanema nos anos 70, e já sabia do jogo sujo da ditadura. Só não estava mesmo preparada para o que eu vi.
Selton Mello como Rubens está espetacular. O bom humor, a relação com os filhos, o amor pela esposa. Está tudo ali, do jeitinho que Marcelo escreveu no livro. Fernanda Torres como Eunice é exatamente o que o público esperava: impecável, elegante, forte, emocionante e zero emocionada. (Afinal, a heroína trágica não pode chorar sem correr o risco de parecer uma barata, aconselhou Fernandona). Inclusive, um dos momentos mais lindos do filme é aquele em que, ao ser fotografada para a revista Manchete, a família sorri. “Mataram Rubens, mas quem decide o que vamos fazer com o luto somos nós, e não vocês”, Eunice/Fernanda parece dizer.
A virada de dona de casa para advogada especialista em direito indígena é linda, dá orgulho, impressiona. Mas não romantizemos. Essa trajetória não foi fruto do sonho de advogar, veio mesmo da necessidade de alimentar quatro filhos depois de o marido ter “desaparecido” nos porões da ditadura. Dona Eunice “venceu” as dificuldades, mas o ponto é que essas dificuldades foram forjadas por um regime absurdo, não precisavam ter existido.
Saí do cinema com a sensação de que “Ainda estou aqui” é um filme que constrói várias pontes, mas destrói outras tantas. Consigo sentir empatia pelas 20 mil pessoas torturadas pelo regime, consigo (re)viver o luto de quem perdeu o pai, consigo sentir orgulho de pessoas que nunca vi na vida. Mas sinto que o filme me tirou também o último resquício de paciência para dialogar com quem relativiza as prisões, as torturas e os desaparecimentos durante a ditadura. Cinco crianças perderam o pai e nunca puderam enterrá-lo. O que mais eu posso te dizer pra te convencer a não voltar em pessoas que apoiam um absurdo desses?
Que seja indicado ao Oscar, que possa chegar em mais gente, que todo mundo conheça essa história. Eu torço demais por isso, mas levantei da poltrona com a sensação de que Walter Salles prega para convertidos. Quem, DE FATO, precisa assistir a esse filme está em casa, se “informando” pelo YouTube, pelos grupos de WhatsApp e tentando boicotá-lo. Até quando?
Curtinhas!
Ainda sobre o filme, 10 minutos de aplauso. DEZ MINUTOS.
Um texto da sobre paixão. (ainda estou aqui refletindo sobre meus próprios arrebatamentos)
Assisti Ana Maria Gonçalves no Roda Viva e saí ainda mais encantada. Retomando a leitura de “Um defeito de cor” em 3, 2, 1…
Corvos guardam rancor por 17 anos e eu acabei de descobrir meu spirit animal.
Uma dupla que sempre me encanta:
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Um curso que eu já quero fazer: “Escrevendo a memória: a literatura na construção da identidade”.
A terceira idade e o fenômeno “mensagens de bom dia”.
O que eu estou lendo?
Enquanto as outras leituras se acumulam na mesinha de cabeceira tomando pó, eu ando bem entretida com “Antologia da Desilusão”, da Alessandra de Blasi. Aliás, entretida não é bem a palavra, porque o tema central do livro é zero divertido: relacionamento abusivo. Berenice é uma mulher prestes a se casar que começa a repensar todas as suas escolhas até ali, percebendo que o tal sonho de princesa era, na verdade, uma enorme ilusão. Estou lendo a edição que minha cunhada ganhou no evento da Salvo, mas já encomendei o meu na Amazon pra poder marcar à vontade!
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