Em setembro de 2022, depois de 3 anos de relacionamento, eu fiquei noiva do amor da minha vida. Mera formalidade, porque já estávamos casados mesmo há mais de um ano, desde que decidimos juntar as escovas de dente, dividir os boletos e encarar as dores e delícias da vida a dois. Mas, vindo de uma família pouco tradicional em muitos aspectos, eu tinha decidido que seria legal seguir (em parte) o protocolo.
Foto das alianças no instagram, parabéns dos amigos, harmonia entre o casal, que felicidade. Agora vamos organizar o casamento? Essa é a hora que o narrador da história ri da nossa cara. Sem perceber, nós estávamos atravessando secretamente o portal do “tem que”. Essa passagem invisível é conhecida de todos os noivos, mas poucos falam sobre ela. É um arco de expectativas que surge a cada vez que alguém pronuncia a palavra “casamento”.
“Tem que ter Igreja”, “tem que ter padre”, “tem que casar de branco”, “tem que ter véu”, “tem que chamar fulano”, “tem que”, “tem que”, “tem que”. Por mais que a gente tenha decidido que faremos o casamento do nosso jeito, abrimos outra caixa de pandora que é: qual é o nosso jeito?
Aqui cabe um parênteses. Guilherme é apaixonado por casamentos. Antes mesmo de me conhecer, ele já sabia tudo o que gostaria de ter no dele, todos os fornecedores, cada detalhe. Ele só não tinha a noiva. Eu tinha um vestido na cabeça e uma marca de brownie.
Vamos ser justos. Muito generosamente, Guilherme abriu mão do tradicionalismo e da ideia de gastar o equivalente a um SUV na festa. Mas ainda sobram alguns resquícios. O principal deles é a busca pela perfeição. Nesse dia, nada pode dar errado. Hahahahahahaha. Então, eu conto ou vocês contam?
Isso nos leva de volta ao tal do “tem que”. Por que raios nesse dia tudo tem que sair perfeito? “Porque só se casa uma vez”, vocês dirão. Correndo o risco de ser chata, pergunto de novo: por que? Se casamento é a celebração do amor, por que só se casa uma vez? Não sei quem inventou a tal da renovação de votos, mas tem todo meu respeito e admiração. Além de permitir mais um punhado de festas durante a vida, esse ser humano tirou o peso que existe sobre um dia só. Palmas pra ele.
Choveu? Relaxa, em 5 anos tem de novo. Entregaram as flores erradas? Tranquilo, na próxima a gente acerta. Alguém caiu na piscina? Lavou, tá novo. A música sendo boa, a bebida estando gelada e os amigos felizes, é isso. Se casamento é uma celebração da vida a dois, a busca pela perfeição não deveria existir. Porque a verdade é: não há nada mais imperfeito do que o dia a dia. E nem por isso ele deixa de ser uma delícia.
Então, quem for ao meu casamento já sabe. Se encontrar algum detalhe impecável, tenha certeza: é obra de Guilherme. Eu serei a de branco descabelada na pista, dançando como se não houvesse amanhã e tentando não pensar nos boletos.
Da semana
Hoje mesmo uma menina repostou nos stories um post meu bem antigo com dicas para furar a bolha na internet. Li meu próprio texto e fiquei com a sensação de que eu falava de um mundo que não existe mais. O conceito de bolha meio que se perdeu e fica cada vez mais difícil buscar um diálogo com quem pensa diferente. Afinal, existe reconciliação com parente fascista e amigo que aplaude a depredação do Congresso e de prédios públicos?
Sou sempre pelo diálogo, mas cada vez mais tenho a sensação de que estamos falando línguas completamente diferentes.
Curtinhas!
O tipo de conteúdo que me causa uma certa inveja. E eu aqui sem saber fazer uma linha reta, meu Deus.
Queria ter lido esse post aos 20 e poucos. Ia me poupar tanta coisa!
Mesmo com chuva… segue sendo a melhor estação do ano!
Spotify sempre surpreendendo. E se você pudesse montar uma playlist e colocar numa cápsula do tempo?
70 coisas para deixar a vida mais leve. Algo como um minimalismo possível. Curti!
O que eu estou lendo?
Sigo mergulhada em “Amada”, da Toni Morrison. Se você ainda não leu, mas quer se aventurar ou se começou, mas não fluiu, a dica é: insista. Vale a pena. No grupo do @lendomulherespelomundo, conversamos a respeito de um spoiler que muda a experiência da leitura. Mas confesso que saber previamente um detalhe do enredo tornou a jornada mais interessante.
E você, é do tipo que detesta spoiler ou não liga pra isso?