Existe algo de mágico (e perturbador) em empacotar as suas coisas e se mudar para outro lugar. Em meio a caixas, metros de plástico bolha e uma tonelada de decisões a serem tomadas, eu sempre fico um pouco nostálgica e reflexiva. Minha mente vagueia entre os pensamentos mais mundanos - “onde eu enfiei a caixa dos adaptadores de tomada?” - e os mais metafísicos - “será que sou uma acumuladora ou esse Startak de 1998 realmente me lembra meu pai?”. (Nascidos após esse ano, favor dar um Google para compreender o dilema).
Isso sem falar nos livros, claro. O box de “O Tempo e o Vento” com certeza vai ter lugar cativo na estante nova, a coleção sobre a Ditadura do Elio Gaspari também, e as minhas edições da Darkside mal podem esperar para se reunir. Mas será que eu preciso mesmo da minha primeira edição de bolso de Hamlet, lida no colégio, quando eu não entendi nem metade da peça? Será que é antiético manter no acervo “O Caso dos Dez Negrinhos” da Agatha Christie agora traduziram o título de uma maneira menos ofensiva?
Em alguns momentos eu invejo com força os amigos minimalistas que conseguem fazer a vida inteira caber numa mochila e viver bem com isso. Mas simplesmente não é pra mim. Por mais que as lembranças do Mc Lanche Feliz me irritem e eu me desfaça delas nessa mudança, sei que já já vou jurar de pés juntos que eu simplesmente pre-ci-so de um Funko Pop do Freddie Mercury e aí começamos tudo de novo.
Deus me ‘dibre” de dar uma de Marie Kondo aqui, mas às vezes me pego pensando o quanto os nossos objetos contam a nossa história e o quanto eles são simplesmente um monte de tralhas, que acumulamos por puro capricho. Dezoito caixas depois, ainda não tenho essa resposta para dar, mas achei válido o exercício: se eu tivesse que colocar tudo o que é importante para mim dentro de uma única bolsa, o que eu escolheria?
A carta que meu pai me escreveu antes de fazer uma antes de fazer uma cirurgia, minha edição de “A Insustentável Leveza do Ser”, com uma dedicatória dele, minha coleção de tarôs, a imagem de Iemanjá que minha mãe pintou pra mim, os bilhetinhos que meu marido me deu. Sempre achei um pouco cretina a pergunta “o que você salvaria de um incêndio”, mas acho que minha resposta seria bem próxima disso. A gente passa meses desejando um celular mais moderno, uma peça de roupa X, um livro im-per-dí-vel, só pra descobrir na primeira mudança que não só é possível viver sem isso, quanto a vida ficaria mais leve. Como diria a Alanis Morissette, isn’t it ironic pra cacete?
Curtinhas!
Um guia nerd para aprender qualquer coisa online e um escritor que eu amo (mesmo aos 37).
Um livro que me deixou intrigada (e já está na lista para 2024).
Rodrigo Casarin atiçando minha vontade de ir para a Espanha & ler Dom Quixote.
Uma reflexão para quem não aguenta mais cores neutras, terninho e batom vermelho para transmitir “autoridade”..
O aquecimento global explicado em um cobertor.
O que eu estou lendo?
Influenciada pelo meu cunhado e pelo lançamento da série da Disney+, resolvi dar uma chance para “Percy Jackson e os Olimpianos” e, olha, que início de saga legal é esse primeiro livro! Eu sou apaixonada pelos mitos gregos desde novinha, e se essa série tivesse sido lançada lá pelos anos 90, com certeza seria uma das minhas favoritas.
Mas como nem só de histórias divertidas vive o ser humano, sigo na leitura de “O Vento sabe meu nome”, da Isabel Allende e, até agora, só li desgraças. Escritas de uma maneira belíssima, mas ainda assim, desgraças. Vocês que já leram, por favor, me digam que algo de bom vai acontecer com um desses personagens? Pela atenção, obrigada!
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eu não tenho dificuldade para me desfazer de coisas que acho que não precisarei mais e podem ter serventia para alguém. a única exceção eram os livros. mas, agora, com uma estante bem menor, aprendi a desapegar deles também. guardo mesmo só os preferidos, aqueles que eu realmente posso querer ler de novo, ou os que têm dedicatória. os demais eu faço circular, “perdendo-os” por aí...
Adorei esse exercício de pensar o que colocaria numa mochila de mais importante pra vc! Vou fazer e escrever! 😍