Amizades duradouras são um portal para o seu "eu" de antigamente. Reencontrá-las é como visitar a casa dos pais e remexer nos baús que guardam os tesouros de infância: um misto de nostalgia, calor no coração e uma pitadinha de vergonha. “Eu era assim?”, “eu gostei mesmo disso?”, “jura que eu era apaixonada por esse cara?”, “a Capricho dizia que era legal!”
De tempos em tempos (bem menos do que eu gostaria), eu reencontro meus amigos da escola. E não importa quantos meses a gente fique sem se ver, a sensação é sempre de um longo recreio (só que com cerveja e sem malabares). Afinal, são 27 anos de amizade. Nessa relação, não há espaço para fingimentos, dissimulações. Eles conhecem o melhor e o pior de mim. As partes feias, bonitas e aquelas que ficam constrangedoramente no meio-termo.
Outro dia, revivendo memórias da adolescência em um boteco na esquina de casa, tive uma conversa curiosa com uma das minhas melhores amigas. Eu e ela nos conhecemos no glorioso ano de 1996, quando as Spice Girls estavam no auge e a gente ainda dançava É o Tchan na inocência. Na infância, éramos próximas. No meio da adolescência, absolutamente inseparáveis. Até que veio o Ensino Médio e… hiato na amizade.
Hoje, 21 anos depois, eu consigo me lembrar claramente de episódios em que ela não estava presente. As tardes eram preenchidas na companhia de outras pessoas. Mas eu não sabia exatamente o porquê.
“Quando te perguntei na época, você disse que eu te tratava mal e por isso você precisou se afastar”, ela me contou na mesa do bar, sem nenhum traço de mágoa. Eu fiquei chocada. Primeiro porque eu não me lembrava de jeito nenhum de ter sido maltratada. Segundo porque aos 16 anos eu consegui verbalizar algo que me magoava. E hoje, aos 36, eu virei mestre na arte de “entubar”.
Minha amiga não ficou chateada comigo. Pelo contrário. Ouviu, entendeu, mudou. Em pouco tempo ficamos próximas novamente. Aparentemente, mesmo com a pouca idade, eu consegui encontrar uma forma de me fazer entender sem magoar a outra parte - que mesmo com o afastamento, ainda era uma pessoa muito querida.
A minha perplexidade vem do fato de que hoje - adulta e com muitas horas/bunda de terapia - eu às vezes me sinto completamente incapaz de verbalizar o óbvio: “não gostei do que você fez”, “não me senti confortável”, “não admito que você fale comigo dessa forma”. Como eu consegui naquela época?
Não sei se foi um súbito ataque de autoconfiança, uma conversa com alguém ou uma personalidade forjada com as músicas da Alanis, mas algo na Tati de 2002 muito interessa à Tati de 2023. Vou chamar essa menina pra sair mais vezes. Ela me parece ser legal.
Da semana
Estamos vivendo um momento curioso na cultura pop: a superexposição dos ex tóxicos. Sim, agora as grandes divas expõem sem dó as traições que viveram de seus boy lixos e se permitem faturar com os chifres, ao invés de ficar chorando em posição fetal e comendo brigadeiro na cama.
O problema? Nenhum. Afinal, os cantores sertanejos já fazem isso há anos. A novidade é que elas são mulheres e, ao contrário do que esperam de nós, não vamos mais nos obrigar a chorar em silêncio. Eu quero mais é ver esse cabaré pegando fogo e Miley Cyrus e Shakira ganhando muito dinheiro.
Curtinhas!
Aquele seu parente bolsominion não enlouqueceu de vez. Ele pode estar sofrendo de dissonância cognitiva.
Reese Witherspoon é minha religião!
Uma lista de excelentes escritoras de horror/terror.
A sociedade está mudando e o marketing precisa mudar também. Uma lista de tensões culturais para ficar de olho.
Batom que previne doenças? Isso é muito sensacional!
O que eu estou lendo?
Lutei contra? Lutei. Durou 2 dias. Aí meu lado fofoqueira/jornalista investigativa falou mais alto e eu comecei a ler o livro do príncipe Harry. “O que sobra” conta a história do “Reserva” desde a infância à saída da Família Real Britânica, passando pela morte da mãe, Lady Di.
Os Windsor - e toda a comoção que eles provocam - me interessam muito. Não porque eu admire a “firma”, muito pelo contrário. Mas porque acho que eles são um caso curioso de glamour e decadência. Enquanto eles vivem com o peso da obrigação moral de simbolizar o poder e a grandeza da Bretanha, eu aqui no meu apartamento de dois quartos em Laranjeiras só consigo sentir pena.
Mas esse assunto rende muito. Assim que eu terminar a leitura volto a ele por aqui. Por enquanto, digo só que vale a pena a leitura.
Adorei te ler, amiga! Fique com vontade de dar uma resgatada na Camila de 15 anos qualquer dia pra verificar se vale a pena um papo com ela ou não :P