A primeira vez que eu fui feita de otária: na primeira série, minha melhor amiga levava sempre uma bebida rosa e bem docinha para o recreio. Quando eu perguntei o que era ela respondeu: “uma bebida da Disney, minha mãe trouxe de lá na última viagem”. Eu nunca tinha ido à Disney e perdi as esperanças de tomar a tal iguaria, até que descobri que era simplesmente gelatina líquida.
A vez em que descobri que não era imortal: eu devia ter uns 10, 11 anos quando eu e minha prima ficamos sozinhas na casa dela. O telefone tocava no segundo andar, acessível apenas pelo lado de fora. A porta estava trancada e achamos por bem andar em cima de um telhado de amianto pra tentar pular a janela e atender o bendito telefone. Como mais velha, eu fui na frente e, claro, a telha cedeu. Eu me assustei, mas consegui não despencar no chão lá embaixo. Uma sorte tremenda porque o quintal estava em obra e cheio de vergalhões de ferro. Não seria uma cena bonita.
O dia em que eu descobri que os livros aplacavam minha ansiedade: com pavor de agulhas, fiz meu primeiro exame de sangue bem tarde, por volta dos 13 anos. Por sorte, minha madrasta é farmacêutica e excelente em exames laboratoriais, então pude evitar o ambiente hospitalar. O exame seria feito no conforto da minha cama. Combinamos que ela me acordaria por volta das 6h da manhã mas, de tão nervosa, acordei às 4h e não pude mais dormir. Minha companhia foi Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, um livro que virou um símbolo de companhia e relaxamento.
A primeira vez que me disseram que eu sabia escrever: aula de história, sétima série. O trabalho era simples: fazer o fichamento de um texto sobre a Revolução Francesa, destacando as ideias principais e escrevendo-o com nossas próprias palavras. No dia da entrega da nota, Miriam, a professora, chegou bem pertinho da minha mesa e disse: alguém já te disse que você escreve muito, muito bem? Seu trabalho está excelente, parabéns. Um elogio que, com toda a certeza, desenhou meu caminho profissional. Miriam, onde você estiver, meu MUITO OBRIGADA.
Curtinhas!
Essa pode ser a última entrevista da Annie Ernaux.
Para evitar o apodrecimento do cérebro.
Pedacinhos de arte por aí.
Um desejo.
Outro desejo.
Leia também!
Por que eu tenho que escolher?
Outro dia, viajando com meu marido, ouvi a seguinte pergunta: “você não tem vontade de fazer coisas, tipo pilotar um avião?”. Na hora levei o questionamento ao pé da letra. Não, nunca pensei em pilotar um avião. Mas depois entendi o que ele, no fundo, ele estava perguntando: “você não tem vontade de fazer coisas ‘loucas’ …
O que eu estou lendo?
Sete anos é um livrinho delicioso de crônicas escrito pela Fernanda Torres. São textos leves - mesmo que a temática nem sempre seja assim, um passeio no parque -, escritos com humor e uma ironia fina, que só os mais inteligentes são capazes de ter. Se você está passando por uma ressaca literária, recomendo fortemente experimentar as crônicas.
deu até um frio na espinha imaginar a cena do telhado...