Eu estou cansada. Começo este texto assim para já diminuir as expectativas de quem me lê. Estou exausta, abublé e completamente delulu. O cansaço me permite ser redundante, porque as ideias estão assim, girando na minha cabeça sem encontrar uma saída.
Meu cansaço tem a ver com o trabalho e dois projetos que eu estou colocando de pé. Sabe aqueles projetos da vida, que sugam a alma, mas depois dá um orgulho imenso de ter concluído? Pois então. Ocorre que, para além de todo o trabalho criativo, ainda há o gasto de energia mental que eu desperdiço com a (inútil) ideia de aprimoramento.
Se você, do outro lado da tela, se identifica como mulher, provavelmente vai me entender (por favor, diga que sim). É aquele misto de “preciso melhorar esse ponto” (o que é válido) com o destrutivo “não sou boa o suficiente” (que exaure). Melhorar, crescer, evoluir, amadurecer, são todos verbos que eu conjugo com constância. Não sou a mesma de seis meses atrás e me orgulho disso. O que me intriga mesmo é o chicote invisível que eu pareço ter colado com cola epóxi na minha própria mão.
Pedi por um apoio moral no início do parágrafo anterior, mas sei que não estou sozinha. Essa semana, lendo Falso Espelho, da Jia Tolentino (e degustando bem aos poucos), me deparei com um ensaio chamado “A otimização constante”. Em um trecho, ela resume toda a minha agonia.
“Tentar encontrar uma maneira de ser uma mulher ‘melhor’ é um projeto ridículo e muitas vezes amoral, uma subdivisão de um projeto maior e também ridículo de ‘melhorar’ na vida sob o capitalismo acelerado. (...) Sob as regras do sistema, a satisfação permanece como algo fora do alcance”.
O texto fala de estética - e da ilusão de que agora não buscamos ficar mais bonitas para os homens, mas sim para “nós mesmas” - mas vários trechos se encaixam também na necessidade quase patológica que temos de “saber mais” antes de dar um passo além da zona de conforto. Zona esta que quase nunca é confortável também.
E aí eu pergunto: se estamos depositando toda nossa energia em sermos a melhor versão de nós mesmas, o que sobra para celebrar o que já somos? Até a palavra “otimização” soa corporativa, não é? É assim, que sem perceber fazemos planilhas com livros para ler, filmes e séries para assistir, lugares para conhecer e vamos dando check como se lazer fosse um job. (Usei o plural como forma de coação, confesso, porque me recuso a ser a única nessa loucura).
Em uma edição recente da sua newsletter, Austin Kleon cita um texto de Jessa Crispin:
“Ler Faulkner vai te tornar uma pessoa melhor? Absolutamente não. Mas o universo inteiro quer que você seja otimizada, produtiva, monetizável. E sentar-se e ler uma obra de arte quando isso não é seu trabalho é um ato rebelde que afirma: sou um ser humano, na verdade, e não uma engrenagem, não uma trabalhadora obediente, não uma garota conformada consumindo o que me é imposto. E desenvolver as partes de mim que são improdutivas, feias e que consomem recursos é um lindo ato de rebeldia.”
Ler só por ler, ver um filme ou uma série só porque o ator foi seu crush na adolescência (sim, Adam Brody, estou falando de você), descansar porque está cansada e tentar uma coisa nova só porque deu vontade, no momento atual, é pura rebelião.
E por hoje, só por hoje, eu não quero aprender nada, não quero melhorar nada, não quero ser útil, e nem bela. Quero existir só para mim e não atender nem mesmo as minhas próprias expectativas. Quero viver apenas a doce despreocupação de um homem hetero.
Curtinhas!
Uma lista de livrarias de rua para conhecer em SP.
Essa livraria no Japão aluga prateleiras para quem quer vender livros novos ou usados. Seria a alegria dos autores independentes?
O retorno mais do que bem-vindo de dona Isabel.
Sobre religião e criação dos filhos: o velho dilema.
Um dos meus maiores orgulhos de ser brasileira é esse aqui.
Intrigadíssima com os “hobbits da vida real”.
O que eu estou lendo?
Estamos oficialmente de volta à piriguetagem literária. Além de Falso Espelho, e do delicioso Para todas as mulheres que não têm coragem, da Dani Arrais, estou renovando a listinha de desejos da Amazon com Comigo na Livraria, coletânea de crônicas da Martha Medeiros sobre nosso assunto favorito.
Para vocês que me perguntam como eu faço para ler mais de um livro ao mesmo tempo, respondo: não sei. Isso é mais um sinal de ansiedade e mente caótica do que propriamente um talento. Mas ler coisas bem diferentes entre si pode ajudar, viu?
E não custa lembrar: os livros que eu cito aqui nessa newsletter sempre vêm acompanhados de um link de afiliado da Amazon. Ao comprar qualquer item através desses links, eu ganho uma pequena porcentagem e você não paga nada mais por isso. Vamos ajudar essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet? :)
Segunda-feira é sempre um dia difícil pra mim... queria começar a semana com aquela energia de "bora fazer acontecer!!!", mas a realidade é que começo sempre a semana cansada, meio arrastada, questionando todas as minhas escolhas profissionais e me lamentando por ter uma semana longa pela frente sem me achar boa o suficiente pra suporta-la. É exaustivo. Ainda bem que tem uma news dessa pra trazer uma leveza e um abraço quentinho (até nesse calor do RJ, o abraço quentinho é bem-vindo) <3