O mundo que queremos (e o que Donald e Mark tem a oferecer)
#105 Zero Pretensões e Sentimentos Aleatórios
Por coincidências da vida - se é que elas existem - os habitantes dessa casa andam imersos em dramas históricos e distopias. Enquanto meu marido lê O Inverno do Mundo, do Ken Follett, eu estou mergulhada em Longa Pétala de Mar, ambos romances ambientados (pelo menos em parte) na Segunda Guerra Mundial. No streaming, estamos assistindo Oppenheimer por partes, já que nos dias de hoje um longa de três horas não pode ser assistido de outra forma (desculpa aí, Christopher Nolan).
É muita guerra, é muita paranoia, é muito desespero para um início de ano só, você poderia pensar. Mas Mark Zuckerberg não concorda e acha pouco. Resolveu se pronunciar dizendo que a Meta agora vai abolir a checagem de fatos, dando um alô para Trump, a extrema direita e adeusinho para uma internet mais saudável. Enquanto isso, o laranjinha diz que está pensando em anexar o Canadá. Anexar o Canadá. Pode ler de novo, é isso mesmo.
O mundo enlouqueceu de vez já faz tempo, mas quando esse povo resolve forçar ainda mais as fronteiras da sanidade mental do povo, eu preciso lembrar que a história é cíclica e isso tudo já aconteceu antes. E apesar de não ter acabado muito bem, pelo menos acabou.
“O país está dividido em bandos irreconciliáveis, filho. Os amigos brigam, há famílias divididas ao meio, já não se consegue falar com ninguém que não pense como a gente”.
Esse trechinho de Longa Pétala de Mar aí em cima não fala do Brasil pós 2018, mas sim do Chile na década de 1970, quando era governado por Salvador Allende. Qualquer semelhança não é mera coincidência. O racha é orquestrado. As ideias que formam as bases da direita e da esquerda parecem irreconciliáveis - e talvez sejam mesmo - e é difícil não perder a esperança quando a gente para pra pensar no projeto de mundo que “o outro lado” defende, mas esse não é um bom momento para jogar a toalha.
Em um depoimento para o Foro de Teresina, Fernanda Torres (até o Oscar estarei monotemática, já peço desculpa) comenta o pronunciamento do Zuckerberg e fala sobre como Eunice Paiva continua provocando reflexões no Brasil. E diz que “é preciso ter maturidade pra viver nesse mundo” tão diferente daquele que a gente quer.
Achei a frase de um realismo esperançoso (como dizia o Suassuna) bonito de se ver. Não dá pra desistir. O planeta tá quente, apertado, os vizinhos podem ser péssimos, mas se essa crise política/econômica/climática/estética serviu pra alguma coisa foi pra acabar com a nossa síndrome de vira-lata. Estados Unidos, Europa, Oriente Médio, América do Sul ou América Central: tá todo mundo lascado. Não estamos no mesmo barco porque alguns estão de iate e outros em um bote furado, mas o mar de tubarões é o mesmo.
Eunice nos aconselharia a continuar a nadar, penso eu. Então, sigamos.
Curtinhas!
As letras miúdas dos nossos sonhos.
Os livros da vida da Tamara Klink.
Uma bela lista de melhores do ano, essa da
.40 perguntas para se fazer todo ano (via Eat Your Nuts)
Um texto lindo da New Plan Journal.
10 livros de memórias reais ou inventadas.
Livros para repensar o ideal de beleza.
23 filmes de terror que estreiam em 2025.
72 anos de música em 7 minutos.
Às vésperas do BBB 25, uma pergunta pertinente: por que o Brasil é tão apaixonado por realities?
O que eu estou lendo?
Longa Pétala de Mar é um livro para quem já gosta da Isabel Allende. Todos os elementos que fizeram os leitores se apaixonarem pela escrita da autora estão ali, mas num volume mais baixo, próprio da maturidade. Se você ainda não leu nada dela, te sugiro deixar esse para depois e começar pelo Casa dos Espíritos, uma excelente introdução ao universo meio mágico, meio histórico de Isabel.
Longa Pétala de Mar também vai falar da história do Chile, mas tendo como ponto de partida a Guerra Civil Espanhola e a ascensão do fascismo. Fugindo de Franco, mais de 2 mil imigrantes chegaram ao país levados pelo Winnipeg, navio fretado por Pablo Neruda. Entre eles Victor Dalmau e Roser Bruguera, o casal de protagonistas. Mas eles não ficaram livres da extrema direita por muito tempo. Cerca de 30 anos depois da chegada ao Chile, Salvador Allende foi derrubado pelas tropas do General Augusto Pinochet, dando início a uma ditadura sangrenta, como aconteceu no Brasil. São temas bem pesados em uma narrativa leve, típica dos livros da autora.
E não custa lembrar: os livros que eu cito aqui nessa newsletter sempre vêm acompanhados de um link de afiliado da Amazon. Ao comprar qualquer item através desses links, eu ganho uma pequena porcentagem e você não paga nada mais por isso. Vamos ajudar essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet? :)
não há alternativa a não ser continuar a nadar...
Gostei de suas ponderações! E também iniciei no universi de Allende por Casa dos Espiritos!