Uma das memórias mais felizes da minha infância foi uma festa de Halloween na casa do meu pai, no interior do Rio. A casa, por si só, era o cenário perfeito: um chalé no alto de um morro, cercado por muitas árvores. Como se não bastasse o clima já meio lúgubre, crianças e adultos se empenharam na decoração. Teias de aranha feitas de tule, insetos de plástico, e no caminho da rua até a casa, cruzes com o nome dos meninos convidados (as meninas foram poupadas do susto).
Meu pai amava histórias de terror, e quanto mais a gente gritava, mais ele se entregava à tarefa. Com o passar dos anos, elas pararam de me assustar. Eu já sabia o que acontecia e não gritava mais nas horas certas. Foi aí que ele resolveu me introduzir a “drogas mais pesadas”. Todo fim de semana nós passávamos na locadora da cidade para alugar filmes de terror. No início, os mais leves como Pânico, Eu sei o que vocês fizeram no Verão Passado, O Sexto Sentido. O Exorcista, o preferido dele, veio bem depois. Lembro até hoje que esperei ansiosamente o momento em que eu seria liberada para assistir, mais ou menos como os adolescentes esperavam para tirar a carteira de motorista.
Quando chegou o dia.... fuén. Não sei se meu pai errou na dose da expectativa, ou se era só uma outra era cinematográfica. No início dos anos 2000, nós já sabíamos que o vômito de Regan era sopa de ervilha e nunca conseguimos enxergar o que os primeiros espectadores enxergaram.
Com tantas memórias boas associadas a filmes de terror, eu passei a gostar de sentir medo. Quer dizer, o medo controlado da ficção, obviamente. No conto “Tudo é Eventual”, do Stephen King, o narrador fala sobre os dois medos que sentimos durante a vida: o medo-TV e o medo-verdadeiro. O primeiro é aquele que sentimos na maior parte do tempo, porque sabemos que, na vida real, as verdadeiras tragédias são mais raras do que na TV. Já o medo-verdadeiro... Bom, eu espero que você nunca sinta nada parecido.
Concordo com o narrador. Há algo de belo no medo causado pela ficção. É como se a gente experimentasse um fragmento, muito filtrado, das agonias dos personagens. Tem coisa melhor do que vivenciar experiências bizarras sabendo que está em segurança, bem debaixo das cobertas, comendo um brigadeiro de panela em casa?
Foi isso que vivi essa semana, assistindo à excelente A Missa da meia-noite, na Netflix. Existe algo bom em deixar passar o hype, que é tirar suas próprias conclusões sobre a série, o filme ou o livro. Foi isso que eu fiz e preciso dizer que essa minissérie é uma das melhores coisas que eu já vi no streaming (olha eu aqui elevando sua expectativa, tal qual papai fez com O Exorcista. Que vergonha!).
A trama começa com a volta de Riley Flinn (Zack Gilford) à Crockett Island, uma ilha minúscula que sobrevive basicamente da pesca. Depois de passar um período na prisão, Riley volta a morar com os pais e precisa se adaptar novamente a essa comunidade super católica. O padre da paróquia local já é um senhor e está afastado por motivos de saúde. Para substituí-lo, chega o Padre Paul (Hamish Linklater), que tem como missão reorganizar o seu rebanho. Os milagres logo começam a acontecer, mas vão se tornando mais sinistros à medida que a série avança. O final é lindo, surpreendente e tenso. Muito tenso.
O mais interessante dessa série é que o terror não é o tema principal, mas sim uma maneira de contar uma história sobre fé, ceticismo, virtudes e pecados. O terror está ali, meio sobrenatural, meio dentro de cada um. A trama é tão bem construída que a direção não precisa apelar para sustos ou trilha sonora dramática. A força está nos diálogos e, principalmente, na atuação do elenco. Todos estão na sua melhor forma, mas Harmish Linklater, Kate Siegel e Samantha Sloyan roubam a cena. Preste atenção principalmente ao diálogo sobre o que acontece após a morte.
E mesmo se você não for fã de séries de terror, te digo: a série vale cada um dos segundos investidos nela.
Curtinhas!
As 500 melhores canções pop, segundo a Billboard. (Michael Jackson em 7º no ranking é algo que não faz o menor sentido). https://www.billboard.com/lists/best-pop-songs-all-time-hits/
explica o que é ser fã de Taylor Swift.Uma receita que será testada em breve.
Reunir os amigos pra isso aqui.
Meio arte, meio ASMR.
O que eu estou lendo?
Eu juro juradinho que não vou mais comprar livros antes de ler os que estão em casa, mas aí me dou conta que eu perco um dos maiores prazeres da vida de leitora: entrar numa livraria, folhear um livro e deixar que ele me escolha. Essa semana conheci a livraria Janela, no Shopping da Gávea, e encontrei “O Mundo Desdobrável”, livro de ensaios da Carola Saavedra. Resultado: me apaixonei e quero ler até a lista de mercado da moça.
E vocês, andam lendo o que por aí? Me conta nos comentários?
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