Descobri que meu dia funciona melhor se eu inverter a lógica: ao invés de começar a rotina trabalhando e resolvendo pepinos alheios, dedico as primeiras horas da manhã a mim mesma. Leio, escrevo, faço exercícios, bebo calmamente meus 500ml de água gelada, tomo meu banho e, aí sim, me sinto pronta pra encarar o mundo.
Obviamente isso parte de um ponto de vista muitíssimo privilegiado. Não tenho filhos, meu trabalho é 100% home office e meu marido um adulto independente e funcional. Mas para que eu tivesse 1 hora da manhã só para mim, eu precisei que anos de terapia me fizessem enxergar o óbvio: eu importo. Olha só que novidade bacana! Eu estou nesse mundo, tenho necessidades e elas precisam ser atendidas.
Essa foi uma das verdades mais duras que eu aprendi na minha fase de quase burnout. Tem algumas coisas que só você pode fazer por você mesma, não dá para terceirizar. Cuidar da sua saúde (física e mental) é uma delas. Quando eu deixava isso para depois, sendo o depois tarde da noite, quando eu terminava a jornada de trabalho, esse autocuidado não existia. Eu simplesmente estava exausta demais para fazer qualquer coisa que me desse o mínimo de trabalho, ainda que a recompensa fosse boa.
Na prática, isso significou anos pagando a academia sem pisar nela, anos comendo o que fosse mais rápido, prático e gostoso (afinal, o prazer e a recompensa tinham que vir de algum lugar, e a comida era o caminho mais óbvio), anos olhando para todo mundo, menos pra mim. Soa altruísta, né? Quase bonito. Mas não. Essa é, aliás, a coisa mais egoísta que nós podemos fazer com quem nos rodeia.
Nós vivemos em um mundo muito louco e contraditório, que nos empurra o tempo todo para o individualismo, mas se choca quando assumimos a posição do título dessa news: “primeiro eu”. Cria-se então um exército de mulheres (sempre nós, não é mesmo?) prontas para servir o outro. As esposas que infantilizam seus maridos, as mães que viram babás dos filhos adultos, as filhas que viram assistentes pessoais de suas mães. É óbvio que a mágoa e o ressentimento vêm. Ninguém consegue dar conta da vida alheia sem esquecer da sua própria e ninguém consegue retribuir tanta dedicação sem entrar em um ciclo sem fim de abrir mão de si mesmo.
E não estou aqui dizendo que nós, mulheres, deveríamos largar nossas obrigações, as tarefas que temos no nosso dia a dia, para deitar no sofá com um bom livro e dane-se o mundo. Seria ótimo se a solução fosse simples assim, mas não é. Eu mesma ainda estou aprendendo a distinguir os pratos que precisam continuar girando daqueles que, se quebrarem, ninguém vai sentir falta.
Esse texto é mais um convite para você aproveitar esse fim de ano para avaliar a sua rotina e descobrir - ou melhor: abrir a fórceps - um momento para você mesma e mais ninguém. Que sejam 15 minutos por dia. Um banho relaxante, uma música que você goste, um episódio do seu podcast preferido. Quando somos boas com nós mesmas, somos infinitamente melhores para os outros.
Curtinhas!
Ainda sobre o texto de hoje, esse post da HQT me pegou demais.
Eis que agora eu quero uma lontra.
Essa lista das 25 mulheres mais influentes de 2023, segundo o Financial Times.
Uma matéria que TODA mulher deveria ler.
Um presente da Quatro Cinco Um para quem gosta de literatura francesa.
O que eu estou lendo?
Quem viu meus stories esse fim de semana já ganhou o spoiler (quem ainda não me segue, corre lá no @eutatiguedes!). Estou lendo uma delicinha chamada “A Mulher do Padre”, da Carol Rodrigues. O livro é uma mistura de livro de memórias com romance de formação, narrado por uma garotinha muito sagaz e muito engraçada. O ponto alto do livro é o tom de voz da narradora, que vai amadurecendo ao longo das páginas e nos revelando detalhes - às vezes perturbadores - da própria vida. Ainda não terminei, mas já recomendo fortemente!
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)
Que delícia de texto. Ontem fiz uma prática que tinha tempos que não fazia: colocar uma luz vermelhinha para dormir. Acordei hoje me sentindo tão bem, menos acelerada. Dei uma estudada, ouvi um podcast, tomei meu café e me banhei. 9h estava a caminho do trabalho feliz e saltitante.
Maravilhoso, minha amiga. Tô muito de acordo e tento nortear minha vida assim também. Vez ou outra esqueço e preciso fazer o esforço de voltar para o prumo e a virada de ano é ótima pra isso, né? Obrigada por mais um texto maravilhoso.