Eu tinha pelo menos seis ideias para a newsletter de hoje, todas devidamente documentadas no meu caderninho. Mas depois da última semana, tudo o que eu queria dizer sobre a vida, o Universo e tudo mais parece sem sentido.
Talvez porque esteja mesmo sem sentido. Falhamos enquanto humanos e não tem um livro, um filme, uma música ou qualquer forma de arte - por mais sublime que seja - capaz de apagar o horror que estamos assistindo em tempo real. Nunca vi tantas fotos borradas nas redes sociais, nunca vi tantos avisos de “imagens fortes”. E por algum motivo, meus dedos são mais rápidos do que o meu cérebro e, quando percebo, já estou ali, consumindo aquele conteúdo horroroso, sem nem saber exatamente o porquê.
Claro que, como seres humanos decentes, cabe a nós tentar entender o que está acontecendo no mundo - até para evitar falar besteira e engrossar o coro da desinformação. Mas quantos vídeos de meninas sendo sequestradas eu preciso ver até compreender que a barbárie está rolando bem debaixo dos nossos narizes? Quantos depoimentos de jovens - de ambos os lados da fronteira - eu preciso assistir pra entender que a humanidade deu errado? Quantos pais chorando? Quantos filhos?
Esse texto não vai escolher times. Se você leu até aqui esperando um comentário muito contundente sobre o conflito, já aviso que vai se decepcionar. Não tenho conhecimento geopolítico suficiente para elaborar uma opinião que seja minimamente relevante para o debate. Mas uma coisa eu sei: a partir do momento que gastamos o nosso precioso tempo com malabarismos retóricos na tentativa de justificar o injustificável, nós perdemos. Perdemos a humanidade, a empatia e, principalmente a decência.
Não que as narrativas sejam inócuas. Foram elas, inclusive, que construíram as bases dos momentos mais tenebrosos da História recente, no Brasil e no mundo. As palavras importam, o nome que damos às coisas importam. Os pensamentos levam às palavras, as palavras levam à ação, e toda ação tem suas consequências. Mas enquanto nós, no conforto dos nossos lares, nos degladiamos em uma disputa de narrativas pelas redes sociais, no Oriente Médio tem gente morrendo de verdade em uma guerra que não tem nada de metafórica.
Como bem disse a
no seu último texto, são traumas reais e pessoas reais. Que a gente não perca isso de vista. Nunca.Da semana
Vou reservar esse espaço para trazer alguns links que têm me ajudado a entender melhor a complexidade do conflito. Os assuntos mais leves seguem nas Curtinhas, combinado?
Curadoria excelente de artigos feita pelo Nexo.
Por que uma rave tão perto da fronteira? A cultura da música eletrônica em Israel.
“Israelenses não são o governo sanguinário de Israel; Palestinos não são as operações terroristas do Hamas.” Um texto certeiro, triste e bonito da Milly Lacombe.
Curtinhas!
(um cadinho de leveza para essa news)
Cartas para Deus (criança é melhor que stand-up comedy!)
Ainda sobre pessoas que fazem o impossível parecer molezinha.
Alergia de gente. Quem se identifica?
A verdade por trás da lista de leituras do ex-presidente Obama.
Bo Burnham traz verdades sobre expectativas nos relacionamentos.
O que eu estou lendo?
Finalmente me rendi ao hype e decidi começar a ler “O Caminho do Artista”. Já tinha incluído o ritual das páginas matinais na rotina, mas ouvi tanta gente falando bem do livro que achei que valia a pena me aventurar. Como eu demoro um pouco para engatar não-ficção, volto em breve para contar as minhas impressões. Digo apenas que se você trabalha com criatividade, vale a pena fazer as páginas matinais!
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)