Nunca diga “dessa água não beberei”, pois vai que beberás. Estou aqui levantando uma bandeira que talvez eu seja obrigada a baixar em algum momento, mas me causa desconforto e uma dose de indignação ver as influencers contratando empresas para decorar as árvores de Natal.
Sim, eu sonho com uma árvore bonita que parece ter saído do Pinterest. Não, eu não consigo fazer igual. Mas também não abro mão daquele marco que avisa que o fim de ano caótico chegou: assistir a impaciência do meu marido desembolando o pisca-pisca que, com certeza, já tem umas três lâmpadas queimadas, comprometendo o efeito final.
Natal no Brasil é um caos e não há como ser diferente. A temperatura média é de 45ºC à sombra e nada, absolutamente NADA combina com a lareira fake que alguns estabelecimentos juram que é de bom gosto. Chega dezembro e eu me pergunto várias vezes ao dia quando a gente vai dar um basta na síndrome de vira-lata e parar de tentar imitar o Natal europeu.
Nunca passei o Natal com amigos estrangeiros, mas eu tenho certeza absoluta que a gritaria, a bagunça e a piada do pavê são exclusividade nossa, latino-americanos. A tia que todo ano pergunta “e os namoradinhos?” pode existir em qualquer lugar, mas aos berros, pra família toda ouvir, é coisa nossa.
Farofa é coisa nossa, arroz com passas também, chester, fiesta e outras aves que nunca vimos na natureza idem. Para harmonizar tudo isso, uma cerveja bem gelada ou vinho para os corajosos. Sempre vai ter aquele parente metido a sommelier que vai falar que “o vinho deve ser servido à temperatura ambiente”, desconsiderando por completo que na Europa a temperatura ambiente é de -2ºC e aqui é 40-beirando-o-inferno.
E não adianta negar: é a temperatura que dita o ritmo da comemoração. Não há como ficar aconchegado no verão. O calor simplesmente não combina com Frank Sinatra. Tenho lá minhas dúvidas se combina com Simone ou o especial do Roberto Carlos. mas aí já são outros quinhentos.
Cada um começa a ceia de um jeito, mas é quase certo que ela vai terminar com todos já meio embriagados, devorando cinco sobremesas diferentes e se preparando psicologicamente para o amigo oculto (secreto ou X, dependendo da sua região). E se você nunca se esforçou na escolha do presente e ganhou um par de meias de volta, sinto muito, você está vivendo errado.
Natal não é uma época feliz para todo mundo. Para mim, durante alguns anos foi sinônimo de tortura. Minha expectativa era ter uma noite feliz, como na canção, com a família reunida como nos filmes, de preferência com uma ceia livre de uvas passas. Essa época do ano só voltou a ter as cores que eu queria quando eu mesma comecei a construir minha própria família. Por acaso, a família aqui em casa tem o sentido tradicional: mãe, marido, sogros, primos, avós, tios. Mas poderia não ter. A comemoração poderia muito bem ser com os amigos, a família que escolhemos. Pode ser sozinho, se em algum momento você precisar de um tempo para você mesmo. Pode ser onde e com quem você quiser.
Na reta final desse ano, deixemos as convenções de lado. Assim como a neve falsa, a lareira de papel celofane e a roupa claustrofóbica do papai noel, a maioria delas não faz o menor sentido.
Curtinhas!
Sempre útil: um guia para evitar tretas nas festas de fim de ano.
Sobre encontrar o próprio ritmo.
Em fevereiro, Senhora Bennet publica uma biografia de Charles Dickens. Aqui dá pra ler um capítulo.
Inclusive, a meta para 2025 é mergulhar fundo nos cursos livres de literatura. Alguma sugestão?
Como arrumar malas e carregar livros. Dicas ótimas da Ana Rusche.
Uma lista com os melhores musicais de todos os tempos.
O que eu estou lendo?
E não é que vocês, leitores amados, são excelentes “escolhedores” de próximas leituras? Pedro Páramo, de Juan Rulfo, foi o vencedor da enquete da última edição, então lá vamos nós. Volto aqui com as impressões em brevíssimo. Enquanto isso, sigo na saga de Olá, querida e degustando (ainda) O Dia Escuro. Aliás, coletâneas de contos são uma porta de entrada incrível para conhecer o trabalho de novos autores. Ando bem apaixonada pela literatura contemporânea e já tenho uma lista de nomes para conhecer ano que vem! E vocês, o que andam lendo por aí?
E não custa lembrar: os livros que eu cito aqui nessa newsletter sempre vêm acompanhados de um link de afiliado da Amazon. Ao comprar qualquer item através desses links, eu ganho uma pequena porcentagem e você não paga nada mais por isso. Vamos ajudar essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet? :)
Lendo Roberto Bolaño
Tati, acho que existe, sim, caos natalino lá no outro hemisfério. Já viu o episódio "Fishes" do The Bear? Hahaha indico demais! Melhor filme de natal q tem