Será que um livro é ruim só por que eu não gostei?
#33 Zero Pretensões e Sentimentos Aleatórios
Não sei se é uma crise de adolescência tardia se aproximando, mas eu ando vidrada em “O verão que mudou a minha vida”, tanto nos livros quanto na série da Amazon Prime.
A história é bem simples. Belly, a protagonista, passa todos os verões na casa de praia da melhor amiga da mãe, Susanah, que tem dois filhos lindos (como não poderia deixar de ser). Obviamente, ela se apaixona pelo irmão mais velho, vira melhor amiga do mais novo e vai vivendo aquela vidinha de adolescente pré-glow up até que vem a puberdade. Em um verão, tudo muda. Saem os óculos, o aparelho, vêm as curvas e… eles se apaixonam por ela. É bobo, é previsível e é uma delícia justamente por isso.
Boa parte do charme da narrativa vem da absoluta despretensão. Nem a trilogia e nem a série vão mudar a vida de ninguém, e tá tudo certo, esse não é o objetivo. É para divertir os adolescentes e ponto final. Mas então, por que eu, uma mulher de 37 anos, me identifiquei tanto com os personagens?
Assim como a Belly, eu demorei a me enxergar como uma garota bonita. Os óculos fundo de garrafa, o aparelho e a total despreocupação com as roupas não ajudavam. Mas assim como ela, de um ano para o outro, eu “desabrochei” - para usar uma palavra que as mães gostavam muito. Foi isso. O patinho feio viu que era cisne. Os outros patinhos viram também e, do nada, eu passei de invisível para bem visível. Acrescente aí as férias em um lugar meio mágico, meio universo paralelo, um crush em um bad boy, um adulto gravemente doente, e pronto. Belly = Tati de 15 anos.
Essa é a graça da arte, qualquer que seja ela. Jenny Han nasceu na Virgínia, mora em Nova York e mesmo sem nunca ter pisado em Engenheiro Paulo de Frontin, no interior do Rio de Janeiro, conseguiu traduzir muito bem os sentimentos que nortearam minha adolescência.
Crédito: Tag Livros
Tenho a certeza de que é para isso que os livros servem, mas o Felipe Neto parece discordar. Essa semana ele fez uma crítica bem contundente (e um pouco grosseira) à Biblioteca da Meia-Noite, um livro que bombou no TikTok.
Escrito por Matt Haig, o livro conta a história de Nora, uma mulher de 30 e poucos anos, que se arrepende das escolhas que fez no passado e vive se perguntando o que teria acontecido se tivesse vivido de forma diferente. Depois de ser demitida e seu gato ser atropelado, ela decide colocar um fim em tudo. Mas antes disso, ela ganha uma nova oportunidade. Na Biblioteca da Meia-Noite, ela pode ler outras versões de sua vida e decidir o que quer viver.
A narrativa é toda costurada de forma a mostrar que não há vida perfeita o que, de certa forma, alivia o peso das nossas escolhas. Vai dar certo e vai dar errado na mesma medida. Cabe a você enxergar o copo meio cheio ou meio vazio.
Minha opinião? Eu peguei emprestado de uma amiga, que gostou e falou super bem. Minha cunhada leu, amou, emprestou para o meu marido, que também adorou. Os três leem bons livros e têm um gosto parecido com o meu. Eles adoraram, eu não gostei. Achei a ideia ótima, mas a execução não me prendeu. E tudo bem, livro não é unanimidade. Mas também não precisa virar Fla x Flu.
Lembro que logo que Harry Potter foi lançado no Brasil, a Veja publicou uma matéria dizendo que quem lia J.K. Rowling não sabia o que era livro bom. (Tem crítica que envelhece mal, né? Como aquele cara que disse anos atrás que “Beyoncé é legal, mas não é nenhuma Ashanti”).
Essa crítica na Veja rendeu uma ótima conversa com o meu pai, que queria saber a minha opinião. Eu tinha 13 anos e achei o máximo um adulto querendo saber o que eu pensava sobre literatura.
A resposta era (e continua sendo): não, nenhum livro tem a capacidade de embotar nosso gosto literário. Pelo contrário. Eu li Harry Potter, Pequeno Vampiro, Cinquenta Tons de Cinza e Crepúsculo. Também li Dom Casmurro, O Tempo e o Vento, Os Miseráveis, as peças de Shakespeare. Li “O Verão que mudou a minha vida” enquanto lia Outro Lugar”, romance contemporâneo de uma escritora israelense que fala sobre bullying e antissemitismo. É assim que a gente constroi nossas referências.
Felipe Neto termina seu comentário dizendo que quem gostou de A Biblioteca da Meia-Noite deveria ler mais. Concordo. Quem não gostou também. O Felipe Neto, inclusive, deve ler mais. Todos nós devemos. Ler é um exercício de identificação e empatia. Imaginação e crítica. A leitura é terreno fértil para debate e troca de ideias. Mas o ideal é que não vire espaço para surtos de superioridade.
Lede o que desejais, deixai os outros em paz!
Curtinhas!
Altamente satisfatório esse vídeo sobre manteiga.
Esse TED maravilhoso do John Green (pra combinar com a literatura teen da news de hoje)
Já to com roupa de ir e pipoca na mão! Claudinho & Buchecha <3
Descobrindo a fase adulta da Taylor Swift cantora (e storyteller)
Receita testada e aprovada!
O que eu estou lendo?
Depois de ler “Outro Lugar”, um livro bom, mas pesado que só, quase voltei a “Casos de Família”, da Ilana Casoy. Mas, como o sol apareceu, o calor tá aí e a semana tá só começando, resolvi pegar o KKKrônicas, da Milla Benício. E olha, que escolha certada. Livro gostosinho de ler e ótimo para dar boas risadas. Estou na página 40 e já recomendo.
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)
ler mais nunca é demais :)
um livro que li e gostei demais, também com a premissa da(s) vida(s) que poderia(m) ter sido, éno 4 3 2 1, do Paul Auster
com o bônus de um panorama extenso da vida americana naquele miolo de século XX, dos anos 30 aos 60
é um romance beem longo, mas que achou uma forma muito diferente é interessante de se contar
recomendo!
adorei seu texto e principalmente a conclusão!! perfeito. vamos todos nos incentivar a ler mais, cada um seguindo o gênero que curte. todo mundo ganha :)