Sobre a Guerra, as mulheres e histórias bem contadas
#75 Zero Pretensões e Sentimentos Aleatórios
“A Guerra não tem rosto de mulher”, já dizia Svetlana Alexijevich. As batalhas e as estratégias são descritas pelo ponto de vista masculino: generais, oficiais, conquistadores e conquistados. Como se durante todo o conflito, as mulheres simplesmente deixassem de existir, se materializando na sala de casa e voltando aos seus bordados assim que os homens regressassem do front. E a gente até pode pensar que isso é algo datado, lá da primeira metade do século XX, mas se olharmos com cuidado, vemos que as narrativas das guerras atuais também não são muito diferentes. Notícias sobre Rússia e Ucrânia, Israel e Palestina, quase nunca citam as mulheres.
Essa semana, fiquei imersa nessa reflexão por conta de um livro que ocupou boa parte das minhas horas livres: “O Rouxinol”, da Kristin Hannah. Esquecido nas prateleiras aqui de casa, ele entrou no meu radar depois que apareceu na 55ª posição da lista dos 100 melhores livros do século XXI, escolhidos pelos leitores do The New York Times. (Polêmicas à parte, essa lista me conquistou bem mais do que a primeira - que comentei aqui - e alguns já estão aqui separados para serem lidos em breve).
Se você, como eu, pouco tinha ouvido falar sobre Kristin Hannah, aqui vai um breve contexto. Dificilmente você vai encontrar seu nome cotado para ganhar o Nobel de Literatura. Mas, com livros traduzidos para mais de 43 idiomas e com mais de 15 milhões de cópias vendidas, não sei se ela precisa de um prêmio para ser considerada uma boa escritora.
(Depois da leitura de “O Rouxinol”, ela reina absoluta aqui em casa e divide espaço na estante com Elena Ferrante e Lygia Fagundes Telles. Nossas prateleiras são espaços livres de preconceito.)
No livro, Hannah conta a história de Vianne e Isabelle, duas irmãs francesas que têm a família desmantelada depois que a mãe morre e o pai volta traumatizado da Batalha do Somme, na Primeira Guerra Mundial. Elas ainda estão tentando se recuperar dos traumas pessoais quando Hitler sobe ao poder e dá início aos horrores que a gente já conhece. Com personalidades quase opostas, Vianne e Isabelle vão tomar caminhos aparentemente muito distintos na guerra. A mais velha fica em casa, no Vale de Loire, com um oficial alemão aquartelado, e a caçula vai se juntar à Resistência Francesa, como milhares de mulheres fizeram na vida real. Mas cada uma, à sua maneira, vai lutar pela sobrevivência, a sua própria e a dos outros.
E por que esse livro mexeu tanto comigo? Pelo simples fato de que ele CONTA UMA HISTÓRIA. E é um pouco chocante a facilidade com que a gente se esquece do quão gostoso é ficar presa em uma narrativa.
Apesar de amar romances filosóficos, narrativas não-lineares, fluxo de consciência e frases que me fazem pensar “uau, como esse autor chegou nessa combinação de palavras”, eu também amo a simplicidade de história bem contada, com personagens cativantes, ganchos e pontos de virada. Foi assim que eu me apaixonei pela leitura há mais de 30 anos e fiquei muito feliz de reviver essa sensação louca, que é a vontade de levar um livro até para o banho.
Fica aqui a dica de um livro cativante, que pode até não mudar os rumos da Literatura Mundial, mas vai garantir bons momentos.
Curtinhas!
Ainda sobre as mulheres na Segunda Guerra Mundial, conheça 5 mulheres que foram essenciais para a vitória das forças Aliadas.
Reza a lenda que “O Rouxinol” vai virar filme com Dakota e Elle Fanning, mas não consegui descobrir muito mais do que esse teaser.
Nos meus sonhos mais loucos,
lê essa newsletter e escreveu esse texto pensando na última edição. Mas na real, é só ela conectada com o que a gente sente mesmo. Afinal, está todo mundo tentando ser genial.E por falar nisso, deixo aqui o texto que Gaia citou e que a
deixou aqui nos comentários da última edição.Já que estamos falando de newsletter, aqui vão 11 dicas certeiras do Rodrigo Casarin para quem tem ou quer ter uma.
Uma arte que eu já quero na minha casa.
A mesma quantidade de caminho. Que lindeza!
O que eu estou lendo?
Terminado “O Rouxinol”, sigo na leitura de “Falso Espelho”, da Jia Tolentino, e “Melhor não contar”, da Tatiana Salem Levy. E finalmente consegui um livro que eu procurava há séculos: “Gostaríamos de informá-los que amanhã seremos mortos com as nossas famílias”, do jornalista Philip Gourevitch, sobre o genocídio de Ruanda. Em breve conto mais sobre eles.
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)
O Rouxinol está na minha lista há séculos. Vou ler!
fiquei curioso para ler o livro. vou procurar por ele.