“Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.”
Essa frase de Rubem Alves muito me representa. Eu gosto de dizer que gosto de mudança e novos começos - e até certo ponto é verdade -, mas fato é que eu sou fã número 1 das gaiolas. Como alguém que convive com a ansiedade desde criança, eu preciso das certezas para que a minha respiração flua normalmente. Gosto das coisas bem explicadas e bem comunicadas.
Olhando assim, você pensaria que eu sou uma pentelha inflexível. Mais ou menos como a personagem da Sarah Jessica Parker naquele filme “Tudo em Família”. Certinha até demais. E para honrar o pacto de ser totalmente honesta que fiz com vocês quando comecei essa newsletter, talvez até seja verdade.
Curiosamente, esse ano me trouxe diversos “vazios” ainda nos primeiros dias. Vários convites para voar e abrir mão das certezas. Alguns desses voos eu já ansiava, e já vinha me preparando para eles. Estudando a rota, observando o vento, checando o combustível. Outros, me pegaram no contrapé.
No dia 1º de janeiro, eu acordei elétrica, doida para colocar meus planos em prática. No dia 4, eu me perguntava se alguém tinha anotado a placa do caminhão que passou em cima de mim.
Mas veja bem, isso não é uma lamentação. Voltando lá na frase do início do texto, “o vazio é o espaço da liberdade, da ausência de certezas”. E liberdade e independência são meus valores mais essenciais. Aqueles que norteiam boa parte das minhas decisões. Confesso nunca ter percebido que liberdade e incertezas não só andam juntas, como são melhores amigas.
A falta de certezas é o não-saber, a ausência de controle. Como dizia um amigo querido, é confiar no imponderável. No fundo, abrir mão das certezas absolutas é abrir espaço para a humildade. Quem eu penso que sou para, aos 37 anos, saber de tudo, saber cada passo que eu preciso dar?
Liberdade e ansiedade não combinam. E o que eu mais quero para esse ano é ser livre para fazer as minhas escolhas, para cuidar da minha família da minha maneira e construir junto com meu marido nosso próprio caminho. Então, apesar de ser uma companheira fiel há mais de 30 anos, a ansiedade vai ter que abrir espaço para o que não foi planejado, mas chegou até mim.
Que nossos voos em 2024 exijam coragem, mas tragam brisas suaves e aprendizados. E que as certezas sejam fortalecidas ao final de cada viagem, já que elas são inevitáveis.
Curtinhas!
Bateu uma nostalgia (e uma culpa pela falta de consciência ecológica)
Uma lista delicinha para quem quer (como eu) começar a ler os russos.
Muito inspirada pelas resoluções de escrita da Fabiane Guimarães (que inclusive está na minha lista de autoras que eu quero conhecer em 2024).
O que eu estou lendo?
Quando a Netflix anunciou o filme “Sociedade da Neve”, sobre o desastre nos Andes, corri para resgatar um livro que comprei há milênios, mas nunca tinha pego pra ler. Em “Milagre dos Andes”, Nando Parrado, um dos sobreviventes conta como foi o acidente e o que os seus companheiros de montanha precisaram fazer para sobreviver. Até agora estou amando!
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)