Escrevo a news dessa semana com o corpo cansado, coração quentinho e o cartão de crédito pedindo socorro. Sábado foi dia de visitar a Bienal do Livro em família, bater a meta de passos e carregar mais peso do que meu 1,54m consegue suportar.
Mais importante do que isso, na verdade, foi voltar para casa com o meu senso de pertencimento renovado. Porque além das compras e dos encontros com os autores, eventos como esse valem mesmo para que quem gosta de ler perceba que não está sozinho.
Essa “solidãozinha” era companhia constante na minha infância. No início dos anos 90, numa era pré-internet, a televisão reinava absoluta com Xuxa, TV Colosso, Power Rangers, Família Dinossauro. Os filmes de John Hughes ainda estavam na moda e não deixavam ninguém esquecer que ler era “coisa de nerd” e esse era um dos maiores pesadelos de alguém na época. Algo como um suicídio social.
Não sei se eu exagero ou se mais alguém da minha geração tem essa percepção, mas era assim que eu me sentia quando queria me afastar das brincadeiras e ler meu livrinho em paz. Ler não era cool. A gente não tinha internet para se (re)conhecer. Eram tempos difíceis para os introvertidos.
Aí veio 1997 e tudo mudou. Pra mim, pessoalmente, porque foi a minha primeira ida à Bienal com o meu pai. Lembro exatamente do que eu comprei: um livro de contos de fadas com capa dura, branca e uma ilustração fofa na capa. (O título me escapa, infelizmente, se não, com certeza compraria para guardar de recordação). Mas eu lembro nitidamente da sensação de andar pelos corredores e pensar: “olha, tem mais criança que gosta de ler como eu!”
Para além da perspectiva do meu umbigo, o mundo também estava se transformando. Em Londres, a Bloomberg lançava o primeiro livro do Harry Potter, que chegaria ao Brasil alguns anos depois. À parte toda a polêmica transfóbica que a J.K. Rowling faz questão de levantar dia sim, dia também, não dá para negar que a saga mudou a maneira como os jovens se relacionam com os livros.
Corta para 2023. A Bienal agora é um grande evento, com participação de autores nacionais e internacionais, atrações e estandes cada vez mais apoteóticos. É Baile de Máscaras da Julia Quinn em um espaço, o Guarda-roupa de Nárnia em outro, o Chapéu Seletor do Harry Potter mais adiante, gente fantasiada. Crianças, famílias, adolescentes, gays, héteros, brancos, pretos, magros, gordos. Todos os tipos de corpos e cores.
Claro, ainda há um recorte sociocultural nessa festa toda. Livro ainda é um artigo caro (que só fez aumentar nos últimos anos) e ainda temos um loooongo caminho a percorrer até que a gente viva em um país de leitores. Mas se minha coluna chiava, meu coração ficava quentinho a cada fila que eu pegava no sábado. E olha, foram muitas.
Não sei dizer exatamente quando minha paixão por livros começou (e essas recordações ficam para outra edição), mas sei que ela se renova de dois em dois anos, sempre que eu coloco os pezinhos na Bienal. :)
Curtinhas!
Por onde começar a ler Annie Ernaux?
Aline Bei é das minhas e também marca livros.
Dedicatórias em livros. A primeira é minha favorita.
Como descartar esponja corretamente.
Uma receita testada e aprovada (com louvor!)
Chad Smith e… Dua Lipa?
O que eu estou lendo?
Pela primeira vez em meses me vi “economizando” um livro. “Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã” partiu meu coração em mil pedacinhos e eu ainda estou tentando classificar a narrativa da Gabrielle Zevin, mas já digo que é uma das melhores leituras do ano.
“Trinta segundos sem pensar no medo: memórias de um leitor” foi o escolhido para inaugurar minhas compras da Bienal. Estou bem no comecinho, mas já digo que vale a pena. Livros sobre livros é uma categoria que sempre me agrada e tem sido gostoso acompanhar a narrativa do @book.ster, agora em formato mais livre. Não é uma delícia quando a gente não precisa se sujeitar aos algoritmos?
Volto em breve para falar mais desses dois livros. Mas enquanto isso, você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)
Delícia de edição!