Quando eu era adolescente, uma das minhas maiores fantasias era me apresentar em um palco, para uma pequena plateia composta por amigos e familiares. Eles estariam esperando uma performance à la Phoebe, de Friends, e eu entregaria o quê? Uma Whitney Houston? Uma Adele? Uma Lady Gaga? Algo nesse naipe. Forte, poderoso, como se meu pulmão fosse a melhor das caixas de som.
Perceba que não basta eu ter uma voz potente, afinação impecável e presença de palco. Na minha mente, o que importa mesmo é o fator surpresa. Algo como “meu Deus, você sabia que ela era capaz de cantar assim?”. Olhos arregalados, aplausos efusivos, de repente, até uma ou outra lágrima. Nada muito efusivo, me basta uns três pares de olhos marejados. É sobre as sutilezas.
Mas eis que as oportunidades se apresentam e a gente aprende na terapia a não deixar mais passar. Minha melhor amiga de infância, professora de canto, precisava de uma orientação para melhorar a presença digital. Eu? Eu precisava pelo menos tentar.
Só tem um pequeno problema: eu não canto. Nunca. Nem no chuveiro. Eu seria campeã absoluta do Lipsync Battle, mas cantar mesmo, com a minha voz? Jamais. (Então quem sabe? Eu podia mesmo ser a Adele!)
Hoje, como todos os seres humanos que habitam o planeta Terra, eu sou ruim em várias coisas. Como a maioria, eu também me culpo, me chateio, juro que vou melhorar, faço um curso, tento de novo, choro em silêncio. Eu só não tiro mesmo o chicotinho da mão.
Mas essa possibilidade era boa demais pra deixar passar. E se eu me arriscasse a fazer uma aula de canto? Sem compromisso, só pra tentar algo novo e ver como seria? E o melhor: em um ambiente seguro, com alguém que me conhece muito bem e já me viu passando vergonhas piores do que desafinar cantando Marisa Monte? Arrisquei. E foi ótimo.
Eu sei que a curiosidade bateu aí. E já adianto: não, eu não sou um talento a ser descoberto. Cantar é difícil. Respirar enquanto canta é difícil. Respirar, cantar e dançar, por exemplo, é algo impensável. Fazer tudo isso MUITO BEM e ainda ganhar dinheiro é a demonstração de que Deus existe. (Beyoncé, mulher… não sei nem o que te falar, juro).
A verdade é que a Beyoncé, a Lady Gaga, a Madonna, a Taylor Swift, a [insira aqui sua cantora favorita], são exceções. Ou melhor, são fruto de um trabalho longo, exaustivo e muita dedicação a um sonho que, honestamente, não é o meu. A gente se compara com os outros o tempo todo, e às vezes até esquece que simplesmente não queremos as mesmas coisas.
Me permitir ser ruim em algo sem jurar que eu vou melhorar, que eu vou ser a melhor, que eu vou dedicar horas do meu dia para “solucionar o problema” tem sido libertador. E repare na escolha das palavras. Não é iniciante. É ruim mesmo. A palavra iniciante passa a impressão de que eu vou me esforçar, me dedicar, ultrapassar barreiras, superar as dificuldades. Não. Eu só vou enquanto estiver gostosinho. Te convido a fazer o mesmo.
Curtinhas!
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O que eu estou lendo?
“Violeta”, da Isabel Allende, já estava me olhando da estante há algum tempo, e me arrependi de não ter começado antes. Que delícia de livro!
Se você gostou de “Casa dos Espíritos” vai adorar esse aqui, e se não leu ainda, pode ser um bom começo. Não é bem uma continuação, mas sim um passeio pelo mesmo universo, só que por outro ângulo.
Violeta é sobrinha de Clara, protagonista de “Casa dos Espíritos”, mas isso é mencionado apenas muito rapidamente. Na trama, as famílias não se encontram, mas tem a mesma maneira gostosa de narrar os momentos mais importantes da vida. Aqui, Violeta conta para Camilo, seu neto, como foi viver a pandemia de gripe espanhola e a de Covid-19. E claro, vai costurando suas experiências com a história do Chile. Esse pra mim é o ponto alto dos livros da Allende, a forma como ela consegue contextualizar a narrativa, misturando o real com o ficcional. Vale demais a leitura!
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Talvez seja até mais sobre se permitir ser o que a gente quiser, né?
Achei interessante a conexão desse tema com os alertas sobre quando trocar de psicóloga...