Ouvir “eu te amo” é bom, mas você já ouviu um “amor, vou fazer terapia”? Essa frase é mais bonita que o Chay Suede e poucas coisas na vida são tão bonitas quanto o Chay Suede. Aprender a resolver suas questões como um adulto responsável e funcional é a melhor maneira de declarar seu amor para o outro (seja ele quem for). Na verdade, é a melhor maneira de declarar seu amor por você mesmo.
Veja bem, não estou aqui incentivando ninguém a fazer terapia para cumprir o desejo de terceiros. Pelo contrário, o processo terapêutico não pode ser compulsório. Ou pelo menos não deveria. Mas se o ser humano não é uma ilha e se nós não vivemos em uma área remota do planeta, aprender a lidar com os seus BOs sem descontar no amiguinho é sempre de bom tom.
A terapia está na moda, mas sinto informar que ela não é um bem de consumo. Até tem influenciadores falando sobre seus benefícios, mas se você pagar e não sair satisfeito, não tem CONAR que resolva. Aliás, se você sair muito satisfeito é sinal de que esse processo terapêutico aí é de se desconfiar.
Porque a terapia não é uma linha reta. Você não sai do ponto A e chega ao ponto B em três sessões. O caminho é tortuoso, cheio de espinhos, caem umas bombas, é uma vibe “fase do Mario no castelo”. Não tem nem Yoshi pra te ajudar. Você não vai ganhar um tapinha nas costas e estrelinhas douradas todos os dias. Cavucar seus traumas, identificar padrões e tentar modificá-los não é molezinha. O tapa rola sim, mas geralmente é na cara. E o curioso é que dói, mas você sai agradecido e devendo favor. Porque são eles que te tornam mais forte.
Em português, a frase “ser a sua própria pessoa” pode não ter tanto impacto quanto em inglês. Mas a ideia central está ali, ser você mesmo, ocupar seu lugar no mundo, se bastar. Se sustentar com as próprias pernas, sem se apoiar emocionalmente no outro. Tomar decisões mais conscientes. Eu sei, existem milhares de maneiras de fazer isso, construir essa estrutura. A terapia é apenas uma delas, mas é minha favorita.
Eu faço terapia - com hiatos, claro - desde os 7 anos de idade. Minha mãe confeccionou meus traumas com muito cuidado, mas como toda boa psicóloga também me apresentou uma saída. Comecei a frequentar consultórios antes mesmo de aprender a organizar minhas emoções e explicá-las em uma frase coerente. Desenho, bonequinhos, sei lá que recursos essas senhoras usaram para me tirar da espiral de ansiedade em que eu vivia, mas fato é que elas conseguiram. Pelo menos, conseguiram por um tempo. Sei que se eu me distrair, a maldita volta com tudo. Por isso, toda segunda, às 15h15, eu declaro meu amor por mim mesma e vou lá “catucar” as feridas.
A gente está em 2024, quase ninguém mais acha que terapia é coisa de maluco. Ou sei lá, talvez achem ainda e nós apenas percebemos que de perto ninguém é normal mesmo. Não sei se acontece com vocês, mas eu começo a desconfiar de quem não se investiga, não se interessa pela própria evolução, não quer nem tentar. O que será que elas escondem debaixo do tapete? Deus me livre descobrir.
Curtinhas!
Por falar em terapia, Ruth Manus escreveu um texto lindo para falar o que a gente sabe, mas parece que esqueceu: a tristeza faz parte da vida e não é doença.
Uma maneira interessante de encarar o processo terapêutico.
5 autoras para conhecer em 2024. (Fiquei com vontade de fazer minha própria listinha.)
Os 40 livros preferidos da Elena Ferrante. Quem aí topa um projetinho?
Austin Kleon dá 10 dicas de como “ler como um artista”.
O que eu estou lendo?
Sigo mergulhada em “Lolita” achando tudo muito fascinante e repugnante ao mesmo tempo. Repugnante porque a temática causa asco mesmo, não tem jeito. Fascinante porque Nabokov escolhe as palavras e constrói frases com tanta elegância que é impossível não ficar um pouco hipnotizada. É a forma sendo usada para tornar o conteúdo descer mais facilmente pela garganta do leitor.
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)
adorei seu texto! eu também sou fã de terapia e fico igual disco quebrado repetindo toda hora pra minha família!
eu ainda não consegui começar. fico adiando essa declaração de amor a mim mesmo...