Se machismo e misoginia nunca saem de moda, por que nós somos obrigadas a superar abusos de acordo com o calendário do outro?
Entre a posse do Trump, deportação de imigrantes e a planilha de influenciadores, semana passada a internet parou para presenciar (dissecar e escrutinar) mais um caso de abuso psicológico. Os personagens são bem conhecidos do público leitor e, apesar dos números tristes de leitores no Brasil, parece ter furado a bolha. Só se falou disso.
Foram dias longos vendo notas de pronunciamento, cartas abertas que não deveriam ter sido escritas - ou pelo menos não naquele tom, penso eu - e mais um show de machismo e misoginia de quem tentava defender o indefensável. Mas o que me incomodou profundamente foi um marco temporal, presente em quase todos os “pedidos de desculpa”, aqui entre muitas aspas.
Será que importa que um abuso tenha acontecido há 14, 15, 30 anos? É só pensar um pouco para ver que não. Será que todos os envolvidos chegam na terapia falando de problemas recentes, recentíssimos? Ninguém ali tem um trauma de infância que precisa ser escarafuchado em várias sessões? Ou será que nem terapia fazem?
Para encarar os próprios demônios é preciso coragem. É preciso olha-los nos olhos e saber que essa é uma batalha longuíssima, que não vai ser vencida de uma hora para outra. O corpo guarda marcas e, algumas, a gente só percebe anos depois. Nosso cérebro bloqueia cenas e diálogos inteiros como forma de proteção, e falar e escrever sobre eles é uma maneira de dar contorno àquilo que ainda dói. Negar isso a alguém não é apenas imoral - principalmente se você for um dos envolvidos - mas também é jogar toda a teoria de Freud e o inconsciente no lixo.
Ninguém precisa ser definido pelos seus traumas, e superá-los é sim, sinal de que, pelo menos, você é forte o suficiente para encará-los de frente. Mas que esse prazo nunca seja dado pelo outro. Quem sofreu abuso deve ter o direito de falar sobre isso quantas vezes for necessário. E mais: contar a SUA história tira do outro o poder sobre a sua narrativa. Sua história é a sua história e merece ser contada. Como bem disse Dani Arrais, a dor não prescreve.
Que Vanessas, Julianas, Gabrielas, Joanas, Carolinas e todas nós possamos falar sem medo sobre o que nos aflige, nos magoa, nos incomoda ou paralisa. E que sejamos escutadas com ouvidos mais gentis.
Curtinhas!
Para quem gosta de organização, isso aqui é ouro!
E essa lista de organização em 30 dias também!
O Holocausto cigano (e o tanto que ainda não sabemos sobre o nazismo).
A sua voz interna te acolhe ou te machuca? https://minabemestar.uol.com.br/relacionamento-abusivo-com-voce-mesma/
Essa lista de livros adaptados para o cinema e para a TV dá até um projetinho de leitura, hein?
Virgínia, Calvino e esse texto da Livia Piccolo.
10 filmes brasileiros para assistir em 2025.
Um livro que eu ando desejando.
Sempre fico feliz quando encontro um blog literário old school. Estou maratonando esse aqui, da .
Um texto lindo sobre a linguagem (e piadocas, que eu adoro!)
O que eu estou lendo?
De semana passada para cá, algumas leituras ficaram pelo caminho. Louças de Família é uma delas. Enquanto isso, sigo cada vez mais apaixonada pela escrita da Rosa Montero em Nós, mulheres e tentando me importar com os personagens de Intermezzo. Mas confesso que até agora (estou ali na página 107), só consigo me preocupar com o destino do cachorro. Sabe, Sally, acho que está na hora de trazer Marianne e Conell novamente em uma continuação de Pessoas Normais. Com eles, eu me importo.
E não custa lembrar: os livros que eu cito aqui nessa newsletter sempre vêm acompanhados de um link de afiliado da Amazon. Ao comprar qualquer item através desses links, eu ganho uma pequena porcentagem e você não paga nada mais por isso. Vamos ajudar essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet? :)
eu AMEI esse texto da Ana Suy :)
e também fiquei impactada com a repercussão do caso traumático em questão...
a melhor análise que vi sobre o caso como um todo foi essa aqui, da Milly Lacombe: https://www.instagram.com/p/DFJMa-aqtK8/
cada pessoa tem seu tempo, cada trauma é um trauma, cada processo é um processo. não tem uma régua em que seja possível compará-los.