“Vá procurar a sua turma” é uma frase que pode soar antipática, dependendo do tom de quem fala e da maturidade de quem ouve. Mas também pode ser um conselho muito poderoso (dependendo do tom de quem fala e da maturidade de quem ouve).
Entender que um determinado grupo “não é a sua turma” quase sempre é um processo doloroso, que nos coloca em contato com uma das sensações mais estranhas do mundo, a de não pertencimento. Por outro lado, abre a porta para um universo de possibilidades. Se esse aqui não é o meu grupo, qual será? Como eu faço pra encontrá-lo?
Essa vontade de pertencer é algo tão forte dentro de mim que durante algum tempo peguei uma birra louca do Gilberto Gil. Em uma entrevista, Preta Gil conta que quando decidiu investir na carreira de cantora, foi logo pedir ajuda para o pai. A resposta, você pode imaginar, foi a frase que abre esse texto. “Como assim um pai - sendo ele o Gilberto Gil! - nega ajuda a uma filha?”, pensei eu, pensou Preta e talvez tenha pensado você, que lê esse texto agora.
Passado o momento de indignação, Preta disse que esse foi um dos melhores conselhos que já recebeu na sua carreira (talvez eu esteja exagerando, mas o efeito sobre mim foi esse). Porque, no final das contas, apesar de antipática, a frase também serve como um catalisador. Preta encontrou sua turma, construiu sua própria carreira, e já mais madura recebeu do pai a ajuda que tinha pedido lá no início.
Mas esse não é um texto sobre Preta Gil e sua carreira musical que, honestamente, não acompanho. O ponto é que para descobrir a nossa turma, a nossa galera, o nosso lugar quentinho, quase sempre é preciso passar pelo desconforto do desencaixe.
Sabe aqueles brinquedos em que é preciso encaixar uma determinada peça em seu espaço correspondente? Ficamos agoniados ao ver uma criança tentando colocar uma peça redonda em um buraco quadrado, mas fazemos isso repetidamente na vida adulta, sem sequer nos darmos conta. Fazemos isso com relacionamentos, trabalhos, situações. Gastamos horas na terapia até perceber que o problema é físico: uma peça quadrada em um buraco triangular, ou vice-versa ao contrário. Procurar - e encontrar - a nossa turma tem o efeito calmante de encaixar a peça em seu espaço correspondente. É um alívio para o cérebro, para os olhos e para o coração.
Eu tive a sorte de me sentir assim algumas vezes ao longo da vida, e a mais marcante delas talvez tenha sido durante a pandemia. Eu e uma amiga decidimos reler um dos livros da nossa adolescência, “Mulherzinhas”, de Louisa May Alcott, e pensamos “por que não chamar mais gente para ler junto?”. O grupo da leitura coletiva se deu tão bem que emendamos em “O Morro dos Ventos Uivantes”, “E não sobrou nenhum”, “Razão e Sensibilidade”, “Emma”, e mais um monte de outros clássicos escritos por mulheres.
O outro momento “nave mãe me chamando para casa” eu vivi - e ainda vivo! - aqui no Substack. Ler as minhas newsletters favoritas, trocar ideia com as autoras (são mulheres, a maioria), ser recomendada por elas e ter um canto para escrever e ser lida é um dos maiores prazeres da minha rotina atualmente.
E para falar de outro prazer recente que também tem me causado essa sensação gostosa de pertencimento, eu não posso deixar de indicar o excelente “A biblioteca no fim do túnel: Um leitor em seu tempo”, do
. Sempre fui fã da e tenho curtido muito reler os textos impressos, com as minhas tags e minha lapiseira, conversando mentalmente com o Rodrigo.Posso dizer sem medo de errar que fui procurar a minha turma e encontrei.
Da semana
Não dá para falar de outro assunto que não seja a tragédia do Rio Grande do Sul. A crise climática vale um texto inteiro, mas antes de destilar a minha indignação, o momento é de ajudar quem precisa ser ajudado.
Eu, meu marido e minha cunhada pensamos em uma ação para ajudar os animais que estão sendo resgatados. Quem quiser contribuir, basta doar qualquer quantia para o pix doguinhosdors@gmail.com. Com esse dinheiro, vamos comprar ração e levar até uma loja da Petz, que está recebendo também doações de itens como roupas, roupas de cama, itens de higiene e alimentos. E óbvio, vamos prestar contas no insta, @eutatiguedes. Bora junto, todo mundo? Aqui nesse post eu explico melhor!
Curtinhas!
Um abraço em forma de post.
Um filme para quem gosta do Veríssimo.
12 performances de Nicole Kidman. A 8, sem dúvida, é a minha favorita.
Ferramentas de gerenciamento de tempo. O Pomodoro funciona super por aqui!
Um passeio por NYC com uma ajudinha da Taylor Swift.
O que eu estou lendo?
Além do livro do Rodrigo Casarin que eu citei ali em cima, estou intercalando “Um Defeito de Cor” com o levíssimo “Carrie Soto está de volta”, da Taylor Jenkins Reed. E já digo que estou amando os três. Minha vida de leitora pode se traduzir no meme “um pouquinho de droga, um pouquinho de salada”. Equilíbrio é tudo.
E você já sabe: ao comprar qualquer item através dos links dessa news você ajuda essa produtora de conteúdo a adquirir mais livros e falar mais sobre eles, em um ciclo sem fim de bons conteúdos na internet. :)
não tem sensação melhor do que achar e permanecer na sua turma.
Obrigado pela leitura, pelas palavras e pela companhia, Tati :)