Eu sei, eu sei. Vivemos na era do “tempo é dinheiro” e tudo o que você quer dizer precisa ser dito nos três segundos iniciais de cada fra… pronto, já perdi a atenção do leitor.
Fazer o quê, ainda cismo em raciocinar por sentenças inteiras. Frases completas, com sujeito e predicado. Fiquei abismada por dias - ainda estou - quando ouvi de uma amiga que a filha cortava frases no meio, porque é assim que a geração Z se comunica no TikTok. Quanta pressa a gente precisa ter para não ouvir a conclusão de um pensamento?
Tudo é rápido, ligeiro, veloz. Ninguém tem tempo para três adjetivos que querem dizer exatamente a mesma coisa. Lamento, mas eu tenho. Aliás, eu cavo. É humanamente impossível escapar das redes sociais, o offline é um luxo que eu não posso me dar. Mas aqui, no meu espacinho digital, eu declaro que encontraremos tempo para repetições. Mais do que isso, teremos tempo para o que é à toa. Para as vontades e desvontades. E principalmente para o inútil que dá prazer.
Pensei nisso ao ver um vídeo da atriz Rosamund Pike escolhendo seus filmes favoritos em um cubículo repleto de DVDs (dica da ). Meu primeiro pensamento foi: quem é que ainda tem DVDs? Só para no segundo seguinte lembrar: eu mesma. Eu tenho. Assim como tenho livros físicos e discos de vinil.
Ocupam espaço, é verdade. Dá trabalho para limpar. Mas são minhas referências ali, materializadas. Minha personalidade exposta, ao alcance das visitas. Eu leio isso, ouço aquilo, vejo isso aqui. Essa sou eu.
Não é prático e nem deve ser. Eu sei que o Kindle, o Spotify e a Netflix existem. Sou muito grata a todos eles e todo mês esses serviços levam uma parte do meu dinheiro. Mas não há nada que substitua a liberdade de não ficar presa à catálogos.
Da mesma forma, gosto de estudar coisas ditas inúteis. E recomendo demais, inclusive. Um curso sobre inteligência artificial seria excelente para você agora? Legal, mas já pensou em corte e costura? Cerâmica? E mitologia grega? Teorias das cores?
E quando for perguntado sobre o por quê (as pessoas têm essa mania de querer saber), experimente o prazer de dizer simplesmente: porque eu quis. Depois vire as costas e saia andando. É melhor do que brigadeiro quente em dia de chuva.
Curtinhas!
O vídeo que inspirou esse texto.
Escrevendo sobre Pequenas coisas como estas, encontrei essa matéria aqui sobre as Lavanderias de Madalena. Vale a leitura!
Uma lista com os 50 melhores romances contemporâneos da literatura brasileira.
traduz meu sentimento em relação à organização das leituras. Alguém mais tem como hobby fazer listas?
Anda difícil odiar a Odete Roitman da Deborah Bloch.
Se você é meu amigo e anda se perguntando o que me dar de aniversário, aqui vai uma sugestão.
Um livro que já entrou para a lista de desejados: a Segunda Guerra Mundial no Rio.
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“A Guerra não tem rosto de mulher”, já dizia Svetlana Alexijevich. As batalhas e as estratégias são descritas pelo ponto de vista masculino: generais, oficiais, conquistadores e conquistados. Como se durante todo o conflito, as mulheres simplesmente deixassem de existir, se materia…
O que eu estou lendo?
Nesse exato momento em que escrevo, divido as atenções com um livro que se vocês ainda não leram, provavelmente já ouviram falar. Esperei passar o hype e, finalmente, tirei da estante Tudo é Rio, que ganhei de presente da minha amiga Luisa Novo há uns dois ou três anos. Não tenho outra palavra para definir, é de verdade um presente. E sim, é tudo isso que falam. Faltam cinquenta páginas, e eu não quero me despedir de Dalva, Venâncio e Lucy. História de (des)amor que vale o frisson que causou.
ai, sim! eu penso cada vez mais nessa coisa física da mídia. de consumir com calma pq é o que se tem e não aquela infinidade de opções que só nos afogam
eu tentei o kindle, mas não rolou. gosto demais de ler livros físicos, sentir a textura, o cheiro do papel, passar as páginas, ir percebendo que um lado vai ficando mais grosso do que o outro conforme a leitura avança...