A passagem do tempo é um tema recorrente nos textos dessa newsletter. Já falei sobre ela aqui, aqui e aqui, mas não me canso de me surpreender com a forma como os dias passam devagar, mas os anos passam muito depressa. A sexta-feira, em uma semana atarefada, parece não chegar nunca. Dez anos se passam assim, num piscar de olhos.
Há alguns dias completei 39 anos. Se você me perguntar como eu me sinto, direi de bate-pronto: velha. Foi assim que eu fui ensinada a ver as mulheres de 39 anos. Mas se você me der cinco minutinhos para pensar, eu provavelmente vou mudar de ideia.
Boa parte das minhas amigas já tem filhos. Mas não são todas. Olho os perfis no Instagram e vejo que uma quantidade considerável de mulheres está curtindo a vida, saindo (de onde tiram essa energia, eu não sei), viajando, conhecendo gente nova, testando novos hobbies. Vivendo, no gerúndio. Os quase-quarenta não são mais uma sentença de “maturidade” - termo que a gente bem sabe que, no caso das mulheres, é um eufemismo para velhice. Pelo contrário, representam um universo de possibilidades.
Aqui na minha bolha, a conta bancária não é mais tão parca quanto no início dos 30 anos. A segurança financeira pode ainda não ter sido atingida, é bem verdade, mas já dá pra tomar um vinho que venha em garrafa de vidro. A essa altura, se ainda não sabemos o que queremos, pelo menos já sabemos o que não aceitamos de jeito nenhum.
Em troca perdemos colágeno, hormônios e a capacidade de suportar alguns mililitros a mais de álcool. Ônus e bônus, assim é a vida.
Mas vale a pena fazer esse ajuste de lente: os quase 40 não são mais o que eram na época da minha mãe. Uma amiga nutricionista costuma dizer que, em breve, a medicina vai precisar rever a ideia de que engravidar depois dos 35 é difícil. A realidade mudou, os antigos padrões já não servem mais.
E se não servem mais coletivamente, se não nos encaixamos mais nas antigas caixinhas, por que fazer isso aqui, na vida privada?
Aniversário é algo que me põe reflexiva e nesses momentos de recolhimento fiz uma lista de comportamentos que eu não gostaria de levar para os 40. A saber: me esconder, me adiar, me retrair.
Não é mágica, obviamente. Afinal, são 39 anos construindo um padrão com a diligência de quem monta um castelo de Lego. Mas envelhecer/amadurecer (não são sinônimos, mas a gente finge que são) é também um exercício de desconstrução. Aquela faxina interna que a gente faz para tirar o que não faz mais sentido e abrir espaço pro novo.
Então, seja muito bem-vindo, 39. Não repara a bagunça.
Curtinhas!
E já que estamos falando sobre o tempo…
Da importância de deixar a mente vagar…
A chave para a felicidade? Confiar nos outros.
O Rio durante a Segunda Guerra. Um livro que já está na minha lista.
Filmes com protagonistas LGBTQIANP+ (o segundo é um dos meus favoritos).
Será que a gente precisa produzir mesmo depois da morte?
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Cadê a autoestima (que nunca esteve aqui)?
Uma das coisas que eu mais amo no Substack é poder trocar ideia com quem eu admiro assim, de igual para igual. Estou ciente de que cada uma que escreve aqui está em estágios diferentes na escrita, tem seus próprios números, suas metas e suas realidades,
O que eu estou lendo?
Enquanto a leitura de Kentukis segue por aqui, a Bienal trouxe algumas coisinhas novas. Uma delas é Todo o resto é muito cedo, livro de poesias da Luiza Mussnich. Para ler assim, aos pouquinhos, degustando cada página!
E vocês, o que estão lendo por aí?
o bom da maturidade é a consciência cada vez mais clara do que eu gosto e da leveza com que recuso convites para fazer o que eu não gosto.
Amei o texto, como sempre. Feliz 3.9, lindeza! <3